terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Substâncias usadas no dia a dia que causam danos cerebrais

Em seu estágio inicial de desenvolvimento, o cérebro do feto é particularmente vulnerável a produtos químicos. A exposição de grávidas a determinados agentes tem sido associada a quocientes de inteligência (QI) mais baixos e a transtornos psíquicos em crianças. É difícil precisar quanto essas substâncias interferem no sistema nervoso em formação, pois isso depende de vários fatores, como predisposição genética e quantidade de exposição.

Pesquisas recentes, porém, têm conseguido predizer os efeitos negativos de alguns componentes, entre eles os éteres difenil-polibromados (PBDEs), usados nas últimas duas décadas como retardadores de chamas em objetos como tecidos de cortinas, colchões, carpetes, móveis e eletrônicos. São substâncias que têm um “talento”pouco comum para permanecer no ambiente. Tanto que a Agência de Proteção Ambiental americana os classifica como poluentes orgânicos persistentes (Pops). Os PBDEs acumulam-se no corpo, principalmente em estruturas ricas em tecidos gordurosos, como o cérebro. Alguns estudos revelam ações dos PBDEs e seus metabólitos (produto de seu metabolismo pelo organismo): interferem, por exemplo, na regulação dos hormônios da tireoide, crítico para o desenvolvimento do cérebro no útero e nos primeiros meses de vida do bebê.

Um trabalho publicado em 2013 na Toxicological Sciences mostra que o PBDE-47 prejudica o crescimento de novos neurônios em adultos – processo importante para aprendizado e memória. Os efeitos sobre o cérebro em desenvolvimento, no entanto, são ainda mais sensíveis. A pesquisadora de saúde ambiental Julie Herbstman, da Universidade Colúmbia, descobriu que crianças de mães com alta concentração de PBDEs no sangue do cordão umbilical pontuaram menos em testes de desenvolvimento mental na primeira infância.

Há também evidências de relações dessas substâncias com sintomas de autismo. A microbióloga Janine LaSalle, do Instituto de Investigação Médica de Transtornos do Desenvolvimento da Universidade da Califórnia, estuda como os PBDEs e outros poluentes orgânicos influenciam o desenvolvimento fetal em termos moleculares. Ao pesquisar tecidos cerebrais de adultos diagnosticados com transtorno do espectro autista (TEA), ela descobriu uma quantidade anormal desses componentes. Eles se concentravam mais nas amostras provenientes de pessoas com tipos de autismo relacionados à participação significativa de fatores genéticos.

Janine testou também os efeitos dos PBDEs em ratos com a mutação genética associada à síndrome de Rett, cujos sintomas são muito semelhantes aos do autismo - como problemas no desenvolvimento da linguagem verbal, movimentos repetitivos e compulsivos e deformidades físicas como mãos e cabeça pequenas, e bem mais comuns em meninas. Ratos que receberam doses diárias de PBDEs, equivalentes à exposição humana média, tiveram fêmeas com déficit de habilidades sociais e comportamentais semelhantes aos sintomas de Rett. Segundo a microbióloga, isso ocorre por causa de uma metilação (modificação química) do DNA. Distribuídos sobre cada fita de DNA em nossas células, grupos metila influenciam a expressão de nossos genes – por exemplo, ligando genes que constroem neurônios no cérebro. Janine observou que o tecido cerebral de pessoas com autismo é significativamente submetilado – bem como o de filhotes de ratas expostas a PBDEs.

Mas, de acordo com a pesquisadora, essas substâncias não interferem na metilação do DNA em qualquer circunstância. Ela usa a metáfora de um recipiente se enchendo de água (ver imagem abaixo) para explicar que é preciso haver uma soma de fatores de risco para que o desenvolvimento cerebral seja afetado. Por exemplo, a exposição a PBDEs pode ser considerada um fator de risco para Rett apenas se uma gestante carrega a mutação genética associada à síndrome. Rett e diversos tipos de autismo surgem, na visão atual da ciência, de uma interação complexa entre fatores endógenos e ambientais. PBDEs são, assim, uma influência ambiental a mais que contribui, usando a metáfora anterior, para fazer a tina transbordar.

Pileque homérico

Acordei confuso e assustado, sem saber ao certo que dia era, com a sensação esquisita de teto baixo, luz mortiça e cheiro de mofo. O desconforto da ressaca de uma festa que não valeu a pena, o constrangimento de ter esquecido como exatamente chegamos aqui. Torto como se o tempo houvesse esquentado, fervido, derretido e voltado a endurecer bem deformado. Um gosto estranho de 1988 na boca, déjà-vu tolo e cafona que nem por isso é menos letal. Quem diria em 2013 que a gente ia se dar tão mal?


Recapitulando: em poucas décadas haverá mais idosos do que jovens no Brasil. A hora de investir em educação e saúde é agora, para que o povo do futuro seja são e safo. Mesmo assim, o governo resolveu sustar por 20 anos os novos investimentos estatais. A mutilação já começou. Não haverá, por exemplo, novas bolsas de residência médica em 2017. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e a Agência Espacial Brasileira (AEB) foram subordinados a uma “Coordenação Geral de Serviços Postais e de Governança e Acompanhamento de Empresas Estatais e Entidades Vinculadas”, no quarto escalão de um novo ministério chamado MCTIC. Está sendo rapidamente desmontada no Brasil a rede de geração de conhecimentos e formação de pessoal altamente qualificado construída a duras penas desde os anos 1950. Esse verdadeiro cavalo de pau na qualificação do povo brasileiro deixará marcas profundas.
Sinal dos tempos desse porre cavalar da experiência humana, em toda parte o pessimismo impera. Donald Trump conquistou a presidência dos Estados Unidos isolado de quase todo o sistema de representação política, mas em contato direto com a massa furiosa que o elegeu. Escrupulosamente despido ao longo da campanha, despojado de todas as máscaras exceto a da intolerância, Trump usou e abusou da retórica de violência, discriminação e intimidação. Apesar disso – ou por causa disso – recebeu das urnas o poderosíssimo mandato de chefe do mundo. Lembrar que Trump será detentor por no mínimo quatro anos dos códigos nucleares dos Estados Unidos evoca um episódio sinistro de Black Mirror, um necrofilme de Tom Burton, um pesadelo em animação suspensa do século 21. Só nos resta torcer para que o líder novato seja mais playboy do que cowboy.
Mas nem tudo são espinhos nesse estranho novo tempo. Até no espesso retrocesso há brechas por onde brotam sementes do futuro. Em decisão histórica, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) posicionou-se claramente a favor da descriminalização da maconha. Ainda em novembro, oito estados americanos, inclusive a imensa Califórnia, aprovaram o uso medicinal ou recreativo da cannabis. A legalização e regulamentação da planta em todo o planeta tornou-se uma meta efetivamente possível, cada vez mais provável, necessária, urgente. Afinal, para curar esse pileque homérico do mundo será preciso flores. Muitas flores.
Este artigo foi publicado originalmente na edição de dezembro de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento: http://bit.ly/2guA4d3 

Presentes mais simples são os preferidos do cérebro

lgumas pesquisas recentes sobre o ato de presentear podem ajudar quem está em busca de um mimo para agradar a pessoas queridas. Salvo exceções e casos específicos, optar por coisas simples e práticas parece ser mais interessante pelo menos do ponto de vista da ciência. Um estudo publicado no Journal of Experimental Social Psychology indica que, embora tendamos a acreditar que presentes sofisticados (e caros) serão mais apreciados, quem recebe, em geral, fica mais feliz com coisas que possam ter uma função em sua vida. No experimento descrito no artigo, pares de amigos, todos estudantes universitários, trocaram canetas novas, algo valorizado entre os estudantes. Quem presenteava acreditava que o outro iria preferir aquelas do tipo pesada, extravagante, para ocasiões especiais. Na verdade, aqueles que receberam o mimo, se mostraram mais contentes com canetas mais leves, ainda que mais baratas.
“Costumamos acreditar que o preço ou o esforço que dedicamos em um presente, por exemplo, é o que faz diferença, mas a pessoa que recebe não sabe desses detalhes, ela apenas vê o objeto e pensa de que maneira irá encaixá-lo em sua vida”, diz o doutor em comportamento e marketing Nathan Novemsky, professor da Universidade Yale, que também desenvolve pesquisas sobre o assunto. Em um de seus estudos recentes, os participantes preencheram um questionário enquanto imaginavam dar ou ganhar um cartão de presente de um restaurante. Aqueles que ofertavam acreditavam que as pessoas presenteadas iriam gostar mais de um voucher de um estabelecimento de cinco estrelas em alguma cidade ao redor; mas, na verdade, eles preferiam um restaurante na estrada, virando a esquina. Tanto os homens como as mulheres tendem a valorizar a opção prática.
Outra coisa: cuidado com papéis de embrulho exagerados. Segundo Novemsky, um estudo em andamento sugere que fazer embrulhos com um saco de papel marrom e liso – ou mesmo entregar sem embalar – pode ser mais apropriado do que aparecer com algo deslumbrante e cheio de fitas. Estranho? Em princípio sim, mas a explicação faz sentido: pacotes atraentes tendem a aumentar as expectativas em relação ao conteúdo e também o risco de que a pessoa fique decepcionada, caso não faça jus a embalagem. Então, a menos que tenha certeza de que o mimo seja requintado, como uma joia, é indicado considerar pacotes mais modestos. Mais uma sugestão: não se acanhe em perguntar o que a pessoa quer. Pesquisas feitas nas universidades Harvard e Stanford mostram que quem recebe um presente, em geral, fica mais satisfeito com o que solicitou do que com algo atencioso que não estava em sua lista.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição de dezembro de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento: http://bit.ly/2guA4d3  

A psicologização do trabalho

Christian Ingo Lenz Dunker
O Brasil vive um hiato jurídico no interior do qual se tornou esporte legislativo propor leis que protegem interesses particulares e facultam a produção de novos condomínios simbólicos. Neste clima de pegue o seu enquanto é tempo, reedita-se a proposta do Ato Médico – que veta o diagnóstico nosológico, a prescrição terapêutica, a aplicação de injeções entre outras práticas aos profissionais não médicos – foi reapresentada para ser novamente arquivada no fim de outubro.
Na mesma linha pode-se incluir o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 439/2015, proposto pelo senador petista Donizeti Nogueira, de Tocantins, que “estabelece que cargos e funções com atribuições voltadas para os campos da administração (…) somente poderão ser providos por tecnólogos e administradores profissionais regulares na forma da lei”. Que motivo haveria para simplesmente excluir o trabalho de psicólogos dos departamentos de recursos humanos, dos tradicionais procedimentos de seleção, recrutamento e treinamento, sem falar nas tarefas que prestam no âmbito das relações humanas e da vida institucional, nas grandes e pequenas organizações?
Desconfio que além da mania de golpe, que faz cada qual tentar sua sorte como síndico, há razões mais profundas e mais interessantes.  Já há dez anos o ambiente corporativo vem se transformando de uma maneira muito curiosa. Há certa consciência de que as habilidades técnicas específicas são cada vez mais fáceis de adquirir e que a competição entre os de mesmo nível se torna cada vez mais indiscernível, sob critérios meramente objetivos de currículo, experiência e qualificação educacional. A “financeirização” dos negócios, que cada vez dependem menos de seu produto básico e mais de suas ações, debêntures, fusões ou aquisições, tornou a relação entre pessoas um fato-chave de qualquer carreira. Não é por outro motivo que os manuais de gerências se expandiram vertiginosamente, os palestrantes profissionais cresceram e as práticas de coaching e mentoring se tornaram norma e padrão. O que habitualmente se chama “política”, que agora se tenciona com as práticas de compliance, junto com a valorização de termos-chaves como “potencial”, “talentos” e “gestão de emoções”, nada mais é do que a institucionalização de habilidades psicológicas e das atitudes, condição de crescimento na carreira.
Se olharmos para o outro lado da cadeia alimentar, veremos que as posições menos qualificadas também estão sujeitas a um fato de impacto psicológico tangível. Os que trabalham em regimes precários dependem, cada vez mais, de suas capacidades psicológicas de sobrevivência: domínio infinito do cansaço, resiliência a jornadas e relações impiedosas e contenção de ansiedade e agressividade.
A psicologização do trabalho tornou-se tão generalizada e tão presente em suas atividades e preocupações diárias que certos administradores podem interpretar que na prática já são como psicólogos. Se isso é verdade, por que não nos reservarmos o mercado que nos é de direito? Como aquele técnico de futebol que não precisa de psicólogo esportivo em seu time porque ele mesmo já é um psicólogo, ou aquele pastor ou padre que já sabe tudo o que é necessário neste ramo. Podemos dizer que não é por falta de informação que tais tolices são proclamadas, mas porque, como dizia Lacan “a impotência em sustentar autenticamente uma práxis reduz-se, como é comum na história dos homens, ao exercício de um poder”.
Este artigo foi publicado originalmente na edição de dezembro de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento: http://bit.ly/2guA4d3  

Mitos e verdades sobre o suicídio no final do ano

Natal e réveillon são datas de comemoração, uma época de alegria, paz, esperança e gratidão, celebrada em reuniões alegres, na companhia de pessoas que amamos. Ou pelo menos seria bom que fosse assim. Mas nem sempre é tão simples. Para alguns, esse é um dos períodos em que mais afloram angústias. O balanço do ano que terminou e as perspectivas para o próximo costumam despertar apreensões, ainda que mescladas com esperança.
Parece lógico que para uma pessoa deprimida os feriados possam ser especialmente difíceis – com uma dose a mais de estresse, sentimentos de solidão e lembranças tristes de entes queridos que já se foram. Não é de estranhar, portanto, que tanta gente acredite que os índices de suicídio crescem nos dias próximos ao Natal. Entretanto, dados de pesquisa realizada revelam uma história diferente. Estudos recentes de vários países mostram que os índices de suicídio em dezembro – e no Natal em particular – tendem a ser os menores do ano, mas nos outros feriados há uma ascensão, especialmente no ano-novo.
Em um desses estudos, os índices de suicídio na Inglaterra sofriam uma queda consistentemente no Natal e uma ascensão no ano-novo durante o período de estudo de 15 anos, segundo o artigo publicado em junho no Journal of Affective Disordersof Public Health. Os pesquisadores relataram um pico geral na primavera e os índices diários mais elevados foram observados nas segundas-feiras. 
Um estudo menos recente relatou um declínio semelhante no dia do Natal nos Estados Unidos, com índices até 15% mais baixos do que a média naquele dia. As descobertas relatadas em 2015 no mesmo periódico coincidem, revelando cerca de 25% menos suicídios por volta da época do Natal na Áustria. Os índices lá eram especialmente baixos no dia 24 e permaneciam assim até
1º de janeiro, quando ocorria o maior número de suicídios em relação a qualquer outro dia do ano. Os autores observaram também maiores índices nas segundas e terças-feiras, assim como durante a semana após a Páscoa.
No entanto, há exceções a essa tendência. Austrália e México mostram índices ligeiramente elevados tanto no dia de Natal quanto no ano-novo (assim como no Dia das Mães e no dia da independência mexicana). Mas a maioria das nações acompanha o padrão que coloca o mito em xeque: os índices de suicídio são mais baixos do que a média próximo ao Natal. “Muitas pessoas acreditam que as taxas de suicídio são mais altas nessa época do ano, o que pode deixar as pessoas mais alertas para situações em que há risco de suicídio, o que também poderia influenciar na diminuição das taxas de suicídio nesse período do ano”, diz a psiquiatra Joana Silveira Pargendler, da Associação Catarinense de Psiquiatria, coordenadora do Setembro Amarelo 2016 (campanha de prevenção ao suicídio).
Segundo ela, são registrados, em média, 24 suicídios por dia, o equivalente a 9 mil mortes por ano no Brasil. Os dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) sugerem que existe sazonalidade nas taxas de suicídio semelhante à encontrada em países de clima temperado, apenas na região Sul do Brasil, e não é possível identificar o mesmo fenômeno em outras regiões do país. Um estudo mostrou que as maiores taxas de suicídio nessa região ocorreriam na primavera, e não no inverno, como ocorre em países de clima temperado. A psiquiatra ressalta que, independentemente da época do ano, é fundamental falar a respeito do suicídio no Brasil e principalmente sobre sua prevenção. “Combater o preconceito ligado aos transtornos mentais é um passo importante que pode salvar vidas; se ideias de suicídio passam pela cabeça de alguém, é importante que se procure ajuda especializada para avaliação do risco.” A médica ressalta ainda que, na grande maioria dos casos, a pessoa que apresenta esses pensamentos tem algum transtorno mental que precisa ser tratado.
SÍNDROME DE DOMINGO
De acordo com o psicólogo clínico Martin Plöderl, coautor do estudo austríaco na Universidade Médica Paracelsus, em Salzburgo, há tipicamente mais conexão social para muitas pessoas próximo ao Natal, o que é um fator protetor estabelecido para suicídio. As entradas em hospital psiquiátrico também diminuem durante esse período. 

Então, por que a ascensão no ano-novo? Os pesquisadores sugerem que o “efeito da promessa não satisfeita” pode explicar esse fenômeno, assim como os aumentos após a Páscoa e fins de semana. “Muitos de nós estamos familiarizados com os sentimentos após os feriados; há uma sensação de vazio, como a ‘síndrome do domingo à noite’, em que muita gente se sente bastante angustiada – é como se pairasse no ar uma pergunta: ‘Então era só isso?’. Em geral esperamos nos divertir e relaxar mais; de repente, nos damos conta de que não foi tão bom quanto queríamos e no dia seguinte temos de voltar para rotina”, diz Plöderl. “Para pessoas deprimidas, a promessa não cumprida do Natal e o ano em branco à sua frente aumentam a desesperança e, dessa forma, o risco de suicídio.”
O consumo maior de álcool que ocorre na véspera e no dia de ano-novo pode também desempenhar um papel no rebaixamento de inibições. “Algumas pessoas podem postergar sua morte planejada para que suas famílias e amigos possam aproveitar o Natal ou para se darem uma última chance”, acredita o pesquisador. 
Embora esses achados não sugiram nenhum risco de suicídio de um indivíduo em particular, trazem implicações importantes para a política pública e profissionais de saúde. Os Centros Americanos para Controle e Prevenção de Doenças advertem em seu website que perpetuar o mito do suicídio no Natal pode afetar a prevenção e os esforços de conscientização pública. “Além disso, essa percepção equivocada pode se traduzir em um planejamento de alta dos cuidados psiquiátricos menos favorável”, diz Plöderl. “Pode ser bom para alguns pacientes deprimidos estar em casa durante os feriados, mas, à medida que janeiro se aproxima seria interessante que tivessem mais apoio.”
Saiba mais sobre o assunto na edição de dezembro de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento: http://bit.ly/2guA4d3  

A polêmica da internação compulsória

Luiz Loccoman
© DRAGON FANG/SHUTTERSTOCK
Drogas como o crack agem de maneira tão agressiva no corpo do usuário que não permitem que ele entenda a gravidade de sua situação e o quanto seu comportamento pode ser nocivo para ele mesmo e para os outros. Foi com base nessa ideia que o deputado federal Eduardo Da Fonte (PP-PE) apresentou em março deste ano uma proposta de política pública que prevê a internação compulsória temporária de dependentes químicos segundo indicação médica após o paciente passar por avaliação com profissionais da saúde. A internação contra a vontade do paciente está prevista no Código Civil desde 2001, pela Lei da Reforma Psiquiátrica 10.216, mas a novidade agora é que o procedimento seja adotado não caso a caso, mas como uma política de saúde pública – o que vem causando polêmica. Aqueles que se colocam a favor do projeto argumentam que um em cada dois dependentes químicos apresenta algum transtorno mental, sendo o mais comum a depressão. A base são estudos americanos como o do Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH, na sigla em inglês), de 2005. Mas vários médicos, psicólogos e instituições como os Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs), contrários à solução, contestam esses dados.

Os defensores da internação compulsória afirmam que o consumo de drogas aumentou no país inteiro e são poucos os resultados das ações de prevenção ao uso. A proposta tem o apoio do ministro da Saúde Alexandre Padilha, que acredita que profissionais da saúde poderão avaliar adultos e crianças dependentes químicos para colocá-los em unidades adequadas de tratamento, mesmo contra a vontade dessas pessoas. O ministro acrescenta que a medida já é praticada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O Conselho Federal de Medicina (CFM) também é a favor da medida. Durante a reunião de apresentação do relatório de políticas sociais para dependentes de drogas, o representante do CFM Emmanuel Fortes corroborou a proposta de internação compulsória nos casos em que há risco de morte, ressaltando que a medida já é praticada no país.

De fato, de acordo com Relatório da 4a Inspeção Nacional de Direitos Humanos (que pode ser consultado clicando aqui ), apesar de a lei no 10.216 prever a internação compulsória como medida a ser adotada por um juiz, o que se vê na prática com os usuários de álcool e outras drogas contraria a lei, pois introduz a aplicação de medida fora do processo judicial. Maus-tratos, violência física e humilhações são constantes nessas situações. Há registros de tortura física e psicológica e relatos de casos de internos enterrados até o pescoço, obrigados a beber água de vaso sanitário por haver desobedecido a uma norma ou, ainda, recebendo refeições preparadas com alimentos estragados.



DE TRÊS FORMAS

Atualmente estão previstos três tipos de internação: voluntária, involuntária e compulsória. A primeira pode ocorrer quando o tratamento intensivo é imprescindível e, nesse caso, a pessoa aceita ser conduzida ao hospital geral por um período de curta duração. A decisão é tomada de acordo com a vontade do paciente. No caso da involuntária, ela é mais frequente em caso de surto ou agressividade exagerada, quando o paciente precisa ser contido, às vezes até com camisa de força. Nas duas situações é obrigatório o laudo médico corroborando a solicitação, que pode ser feita pela família ou por uma instituição. Há ainda a internação compulsória, que tem como diferencial a avaliação de um juiz, usada nos casos em que a pessoa esteja correndo risco de morte devido ao uso de drogas ou de transtornos mentais. Essa ação, usada como último  recurso, ocorre mesmo contra a vontade do paciente.

CASO A CASO

Para a secretária adjunta Paulina do Carmo Duarte, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), o discurso que circula sobre epidemia do crack não está de acordo com a realidade. “Há no imaginário popular a ideia equivocada de que o Brasil está tomado pelo crack, mas o que existe é o uso em pontos específicos que pode ser combatido com atendimento na rua, não com abordagem higienista, com o mero recolhimento de usuários.” Dados do Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (Obid) revelam que 12% dos paulistanos são dependentes de álcool e apenas 0,05% usa crack. A psicóloga Marília Capponi, conselheira e representante do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP-SP), aponta que, apesar dos dados, o crack tem sido tratado como epidemia em todo o território nacional nos últimos anos, e com isso tem sido disseminada a necessidade de uma resposta emergencial para resolver a questão, o que referenda a internação compulsória. Marília, que também é cordenadora de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), argumenta, porém, que essa é uma propaganda falaciosa. Estudos desenvolvidos em centros de pesquisa de várias partes do mundo mostram que de todas as pessoas que se submetem a tratamento para se livrar das drogas, apenas 30% conseguem deixar a dependência; mas o acompanhamento dos casos mostra que é imprescindível o tratamento específico e muito esforço multiprofissional.

O sistema de conselhos de psicologia acredita que a medida fere os direitos humanos e tenta destruir o movimento da reforma psiquiátrica. Defende que não basta reconhecer a insuficiência da rede de saúde na administração das necessidades dos que dependem de drogas, mas estabelecer o compromisso de ampliá-la com o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Os especialistas acreditam que a opção pela internação em instituição terapêutica deve ser considerada e respeitada, mas desde que seja avaliada caso a caso – e jamais adotada como uma política pública.

“Trabalhadores, gestores e usuários do SUS mobilizaram-se a favor da defesa dos direitos humanos e do tratamento em serviços abertos e articulados com a Rede Antimanicomial. Fica claro que as comunidades terapêuticas não são aceitas pelos que constroem o SUS. Elas se constituem em serviços que se organizam a partir de pressupostos morais e religiosos que ainda persistem devido à correlação de forças nas diferentes instâncias dos legislativos, executivos e judiciários do nosso país”, afirma Marília Capponi. Outro estudo, feito pelo psiquiatra e coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad) Dartiu Xavier da Silveira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra que apenas 2% dos pacientes internados contra a vontade têm sucesso no tratamento e 98% deles reincidem. “A porcentagem de fracassos é alta demais para que a medida seja adotada como política pública no enfrentamento do crack”, afirma Marília.

Enquanto se discute a questão, dois usuários de crack são internados involuntariamente todos os dias em São Paulo. Entre pessoas dependentes dessa e de outras drogas e a pacientes psiquiátricos, o número de encaminhados para instituições terapêuticas contra a própria vontade nos últimos oito anos passa dos 32 mil, segundo dados do Ministério Público. Marília garante que as experiências relatadas por quem já passou pela internação forçada são desumanas. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) tem proposto debates para discutir formas de enfrentamento do uso abusivo de álcool e drogas ilegais, argumentando que o problema tem raízes na desigualdade social e que apenas articulações em rede, da qual participem diversos setores e instituições sociais, podem ser eficazes para resolver a questão.

CONFLITOS E DESAFIOS

O movimento da reforma psiquiátrica é uma luta pelos direitos de pacientes psiquiátricos que denuncia a violência praticada nos manicômios e que propõe a construção de uma rede de serviços e estratégias comunitárias para o tratamento dessas pessoas. O movimento ganhou força na década de 70 no Brasil com a mobilização de profissionais da saúde mental e familiares de pacientes insatisfeitos com os métodos praticados na época. A nova política de saúde mental visa o tratamento em rede substitutiva, ou seja, em locais que o paciente possa frequentar, sem a necessidade de passar longos períodos internado, longe da convivência familiar e comunitária.

 O movimento de desconstrução do hospital psiquiátrico implica um processo político e social complexo, composto de diversos atores, instituições e forças de diferentes origens do qual o CRP participou efetivamente; por isso a instituição se posiciona contra as internações compulsórias e contra as comunidades terapêuticas, defendendo o tratamento em locais abertos ligados à rede antimanicomial. Para isso luta pela ampliação dos serviços oferecidos pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que é um trabalho em saúde mental aberto e comunitário do SUS e local de tratamento para pessoas que justifiquem sua permanência num dispositivo de atenção diária; nas unidades de acolhimento transitório, postos que funcionam como uma passagem breve para o dependente, que depois será encaminhado a serviços de reinserção social. Também são considerados necessários consultórios de rua que atendam à população em situação de risco e vulnerabilidade social, principalmente crianças e adolescentes usuários de álcool e outras drogas; bem como a oferta de leitos em hospital geral e equipes de saúde mental básica articuladas com as redes de urgência.

Uma contrapartida à internação compulsória é o reforço de políticas públicas de tratamento em rede substitutiva, em convivência familiar e comunitária aos usuários de entorpecentes. “A dependência química é um fenômeno que deve ser discutido da perspectiva biopsicossocial; o tráfico, o desemprego e a violência pedem intervenções mais amplas e recursos de outras áreas como educação, habitação, trabalho, lazer e justiça”, ressalta Marília.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Pesquisadores do Reino Unido poderão testar técnica do “bebê de três pessoas”

A regulamentação da fertilidade no Reino Unido agora permitirá o nascimento de bebês resultantes de embriões modificados para conter o DNA de três pessoas “em certos casos específicos” — tornando o país o primeiro a permitir a terapia explicitamente. 
No dia 15 de dezembro, a Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia do Reino Unido (HFEA, na sigla em inglês) anunciou que permitiria que clínicas solicitem licenças para conduzir testes limitados da técnica, que tem como objetivo evitar que mães passem para seus filhos mutações em estruturas celulares chamadas de mitocôndrias. No mês passado, o conselho científico da HFEA recomendou que os testes fossem adiante.
“A decisão histórica de hoje significa que os pais com alto risco de terem um bebê com uma doença mitocondrial que coloque em risco a vida de seu filho poderão, em breve, ter a chance de ter um descendente direto saudável. Isso é completamente inovador para essas famílias,” afirmou a chefe da HFEA, Sally Cheshire, em uma declaração para a imprensa.
Pesquisadores da Universidade de Newcastle e do Centro de Fertilidade Newcastle já disseram que vão solicitar a licença para realizar o procedimento. Chamada de terapia da substituição mitocondrial, a prática envolve trocar uma mitocôndria defeituosa por outra saudável através da transferência do DNA nuclear de um óvulo (ou embrião recém-fecundado) para outro óvulo (ou embrião) doado. Doug Turnbull, diretor do Centro Wellcome Trust para Pesquisa Mitocondrial da Universidade Newcastle, diz que “até 25” pacientes selecionados poderão ser tratados em Newcastle com a terapia a cada ano.
No entanto, o Reino Unido não será o primeiro país no qual a terapia foi utilizada. Médicos da área de reprodução disseram esse ano que já haviam realizado o procedimento no México e na Ucrânia, que não possuem leis proibindo a técnica. John Zhang, um médico do Centro de Fertilidade New Hope, na cidade de Nova York, disse que um bebê concebido através do tratamento parece ser saudável até o momento.
A pesquisa sugere que o tratamento talvez não seja sempre 100% eficiente. Clínicos dizem que é difícil prevenir que algumas mitocôndrias mutantes sejam transferidas junto com o genoma nuclear para dentro do óvulo doado — e testes em embriões sugerem que, em alguns casos, essas mitocôndrias defeituosas podem superar as saudáveis.
O HFEA aprovará o uso caso a caso. Um representante do órgão disse, no mês passado, que a primeira criança do Reino Unido que terá o DNA de três pessoas poderá ser concebida já em março ou abril de 2017.
Ewen Callaway
Este artigo foi reproduzido com permissão e foi publicado originalmente pela Nature em 15 de dezembro de 2016. 

Ritmo da respiração afeta memória e medo

Cientistas da faculdade de Medicina de Northwestern descobriram pela primeira vez que o ritmo da respiração cria uma atividade elétrica no cérebro humano que acentua os julgamentos emocionais e a lembrança de memórias.

Esses efeitos no comportamento dependem e variam se a pessoa está inspirando ou expirando, e se ela respeita pelo nariz ou pela boca.

No estudo, indivíduos foram capazes de identificar uma expressão amedrontada mais rapidamente quando se deparavam com o rosto enquanto inalavam do que quando exalavam. Os indivíduos tinham mais facilidade em se lembrar de um objeto quando se deparavam com ele enquanto inspiravam do que quando expiravam. O efeito desaparecia se eles estivessem respirando pela boca.


“Uma das principais descobertas deste estudo é que existe uma diferença dramática na atividade cerebral na amígdala e hipocampo durante a inspiração em comparação com a expiração,” explicou a autora principal do estudo, Christina Zelano, professora assistente de neurologia da Escola de Medicina Feinberg da Universidade de Northwestern. “Quando você inspira, nós descobrimos que você está estimulando neurônios no córtex olfativo, amígdala e hipocampo, através de todo seu sistema límbico.”

O estudo foi publicado em 6 de dezembro, na revista científica Journal of Neuroscience. O autor sênior é Jay Gottfried, professor de neurologia na Feinberg.

Cientistas da Northwestern fizeram essas descobertas pela primeira vez enquanto estudavam sete pacientes com epilepsia que estavam com cirurgias cerebrais marcadas. Uma semana antes dos procedimentos, um cirurgião implantou eletrodos no cérebro dos pacientes para identificar a origem das convulsões. Isso permitiu que os cientistas adquirissem dados eletrofisiológicos diretamente dos cérebros dos pacientes. Os sinais elétricos registrados mostraram que a atividade cerebral flutuou durante a respiração. A atividade ocorre em áreas cerebrais nas quais emoções, memórias e cheiros são processados.

A descoberta levou os cientistas a se perguntarem se as funções cognitivas tipicamente associadas com essas regiões do cérebro — especialmente o processamento do medo e da memória — poderiam ser afetadas, também, pela respiração.
A amígdala está fortemente associada com o processamento emocional, em particular emoções relacionados ao medo. Desse modo, os cientistas pediram para cerca de 60 indivíduos, no ambiente do laboratório, tomarem uma decisão rápida sobre expressões emotivas enquanto registravam as respirações deles.

Os indivíduos receberam fotos de rostos com expressões de medo ou surpresa e tiveram de indicar, rapidamente, qual emoção cada rosto estava expressando.

Quando encaravam as fotos durante a inspiração, os indivíduos as reconheciam como amedrontadas mais rapidamente do que quando faziam o mesmo durante a expiração. O mesmo não aconteceu com as expressões de surpresa. Esse efeito diminuiu quando os participantes realizaram a mesma tarefa enquanto respiravam pela boca. Portanto, o efeito é específico para estímulos de emoções de medo durante a respiração pelo nariz.

Em um experimento que tinha como objetivo acessar a função da memória — ligada ao hipocampo — os mesmos participantes observaram fotos de objetos em uma tela de computador e foram instruídos a memorizá-las. Os pesquisadores descobriram que os indivíduos se lembraram melhor quando tinham encarado as imagens durante a inspiração.

Os achados significam que uma respiração rápida poderia conferir vantagens quando alguém está numa situação perigosa, explica Zelano.
“Se você está em um estado de pânico, o ritmo da sua respiração se torna mais rápido,” afirma Zelano. “Como resultado, você passará proporcionalmente mais tempo inalando do que em um estado calmo. Assim, a resposta natural do nosso corpo ao medo em aumentar a frequência da respiração pode ter um impacto positivo no funcionamento do cérebro e resultar em uma resposta mais rápida a estímulos perigosos do ambiente.”

Outro insight potencial da pesquisa diz respeito aos mecanismos básicos da meditação ou percepção da respiração. “Quando você inspira, você está, em certa medida, sincronizando oscilações cerebrais através da rede límbica,” afirmou Zelano.

 

Físicos medem a antimatéria em experimento pioneiro com laser

No que pode ser considerada uma proeza técnica, físicos conseguiram realizar as primeiras medidas de como átomos de antimatéria absorvem a luz. 


Pesquisadores do CERN, o laboratório europeu de física de partículas localizado em uma região de Genebra, focalizaram um laser ultravioleta num átomo de anti-hidrogênio, o átomo de antimatéria equivalente ao hidrogênio. Eles mediram a frequência de luz necessária para mover um pósitron — um antielétron — da sua camada de energia mais baixa para a próxima camada superior, e não encontraram discrepâncias com a transição de energia correspondente do hidrogênio comum.

O resultado nulo ainda é muito animador para os pesquisadores, que trabalham há décadas em direção da espectroscopia de antimatéria, o estudo de como a luz é absorvida e emitida pela antimatéria. A esperança é que o campo possa fornecer um novo teste de uma simetria fundamental das leis conhecidas da física, chamada de simetria CPT (carga-paridade-tempo).

A simetria CPT prevê que os níveis de energia da antimatéria e matéria devem ser os mesmos. Mesmo a menor violação dessa regra exigiria repensar seriamente todo o modelo padrão da física de partículas.

Randolf Pohl, espectroscopista da Universidade de Johannes Gutenberg, em Mainz, Alemanha, mal podia conter sua animação. “Depois de todos esses anos, esses caras finalmente conseguiram fazer uma espectroscopia óptica em anti-hidrogênio. Isso é um marco na investigação de átomos exóticos.”

“É incrível que alguém possa controlar a antimatéria a ponto de ser possível fazer isso,” afirma Michael Peskin, físico teórico do Centro de Aceleração Linear de Standford, em Menlo Park, Califórnia.


Anti-hidrogênio frio

O estudo da antimatéria é extremamente difícil porque ela se extingue sempre que entra em contato com a matéria normal. Em 2010, o experimento ALPHA, uma colaboração internacional localizada no CERN, demonstrou como prender anti-hidrogênio em uma armadilha magnética — e, desde então, vem trabalhando no estudo de suas interações com a luz.

A cada 15 minutos, aproximadamente, o grupo ALPHA pode produzir cerca de 25.000 átomos de anti-hidrogênio. Para fazê-los, os físicos combinam pósitrons, emitidos por uma substância radioativa, com antiprótons, produzidos por um acelerador de partículas e então desacelerados quando resfriados.

A maior parte desses átomos são muito “quentes” — se movem muito rapidamente, e estão em um estado de energia muito alto — para estudos de espectroscopia. Então os pesquisadores precisam deixá-los escapar da armadilha magnética, deixando apenas alguns dos átomos mais lentos e menos energizados de anti-hidrogênio. Aperfeiçoar essa técnica levou anos, afirma o representante do ALPHA, Jeffrey Hangst. “Produzir anti-hidrogênio é relativamente fácil; produzir anti-hidrogênio frio é muito difícil,” ele diz.
Finalmente, a equipe do ALPHA conseguiu enxergar se, quando os pesquisadores faziam um laser brilhar em uma frequência específica, os átomos de anti-hidrogênio agiam como seus correspondentes de hidrogênio. O grupo afirmou que sim: a transição de energia é consistente e com precisão de 2 partes em 10 bilhões, relataram na Nature no dia 19 de dezembro.

"Você coloca tanto esforço em um projeto, e ele finalmente dá certo. Quase não há palavras para descrever,” diz Hangst.

Agora, os pesquisadores esperam sondar o anti-hidrogênio com uma ampla variação de energias de laser. Isso poderia fornecer um teste de matéria mais rigoroso – equivalência de antimatéria e simetria CPT.

Muitas teorias, como a teoria das cordas, que se aventuram além do modelo padrão ao combinar a gravidade com as três outras forças fundamentais da física subatômica, envolvem alguma violação do CPT, diz Peskin. “Então não é claro se a CPT é a simetria verdadeira da natureza,” ele diz.

Dois outros experimentos no CERN — chamados de ATRAP e ASACUSA — competiam com o ALPHA para medir a espectroscopia da antimatéria. Gerald Gabrielse, líder do ATRAP e físico da Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts, diz que ele propôs pela primeira vez medir a energia de transição específica do anti-hidrogênio que a equipe do ALPHA relatou 30 anos atrás. “Nós começamos dez anos antes e eles chegaram a esse resultado primeiro,” ele afirma. “Parabéns para a ALPHA.”


Davide Castelvecchi


Esse artigo foi reproduzido com permissão e foi publicado originalmente na Nature no dia 19 de dezembro de 2016.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

From the Magic of Exercise to the Mind of an Octopus

We all know that exercise is a good thing—for body and for mind. Decades of data have established it as one of the best ways to lower the risk of heart disease and stave off other ailments of aging, including dementia. But even after many years of covering health as a reporter and editor, I was genuinely surprised to learn about the depth of the evidence showing how powerful exercise can be in battling major depression. In our cover story, “Head Strong,” contributing editor Ferris Jabr reveals how moderate to vigorous exercise can be as effective as medication and therapy for many people with mild to moderate depression—and it certainly has the most salutary side effects of any treatment.
“Scores of experiments now show that exercise is much more than a temporary distraction from mental woes,” Jabr writes. His story examines the research and explores the likely biological pathways through which working out works mental magic. These include strengthening our biochemical resistance to stress and promoting the growth of new brain cells.
Brain biochemistry looms large in another story in this issue. “The Currency of Desire,” written by journalist Maia Szalavitz, smashes some myths about everyone's favorite neurotransmitter. Dopamine, long reputed to be the brain chemical that signals pleasure, turns out to have more to do with wanting than with liking. “This little molecule,” Szalavitz writes, “may unlock the intricate mystery of what drives us,” which helps to explain its role in everything from initiating action to addiction.
How to help children achieve their potential is a challenge that all principled societies must face. Two stories take a look at this from very different angles. In “The Stamp of Poverty,” neuroscientist John D. E. Gabrieli of M.I.T. and psychologist Silvia A. Bunge of the University of California, Berkeley, describe recently discovered differences in brain anatomy and function between kids growing up in poverty and more affluent children—findings that add urgency to the issue of extreme income inequality. In “Nurturing Genius” journalist Tom Clynes reports on the lessons of a 45-year study of how best to educate our most intellectually gifted youth.
Finally, for a glimpse of a wildly different kind of intelligence, soak up “The Mind of an Octopus,” our excerpt from a new book by Peter Godfrey-Smith. You'll likely agree with the author that the octopus possesses the closest thing on earth to an alien intelligence.

This article was originally published with the title "From the Editor"

Voyage to Infinity

Five overlaid Hubble Space Telescope images show the motion of 2014 MU69, which the New Horizons mission will reach on New Year's Day, 2019. Credit: NASA, ESA, SwRI, JHU/APL, and the New Horizons KBO Search Team. Public Domain
After its pioneering exploration of Pluto and its five moons in July 2015, NASA’s New Horizons spacecraft is outward bound from the solar system on a voyage to infinity. Directly ahead of it in the void, however, is an object in the Kuiper Belt called 2014 MU69, an ancient dark reddish aggregate of rock and ice only a few dozen kilometers in diameter, discovered just a year before the Pluto encounter. MU69 has orbited the far reaches of the solar system since it, our sun, our own world condensed out of a cloud of dust and gas nearly five billion years ago.
We think, hope—guess, maybe—that it’s a raw, leftover lump of the ingredients that formed the solar system, a fossil witness to the creation of the planets and their moons. Regardless, MU69 provides the first in situ sampling of the Kuiper Belt, a diffuse torus of thousands of icy planetoids that circle the outer solar system. The voyage to MU69 marks the most distant destination in the history of civilization. It is the last speck of land New Horizons will pass before sailing on to deep interstellar space.
New Horizons reaches this last port of call on New Year’s Day, 2019, a year that will mark the 50th anniversary of the first steps of humans on another world. There’s so much to prepare for, investigations to be sketched out, studies to be drawn up, so many decisions to be made that even now the New Horizons team of scientists and engineers is working full time to get ready. It’s been my pleasure to have a tiny part in this.
An email comes in near the end of the day, asking how we might best use one of the cameras on the spacecraft for this or that. I start typing my thoughts into my laptop, day dreaming a little perhaps, looking out my office window at the jagged Catalina mountains that rise out of the desert north of Tucson. Above them a crystal clear cerulean sky extends forever in all directions. It’s a great arena for an astronomer. Watching a full moon clear the rocky skyline, it hangs just above the distant peaks as an amber, delicately shaded globe. You can feel the distance to the moon. There’s no question that it’s a real world to explore.
Looking over the sky, I know that New Horizons is out there somewhere. It’s hurtling off into the galaxy at 14 km/s, or more than 31,000 m.p.h., far, far, far out in the outer solar system on a course we set it on after its flight past Pluto. From Earth it would take only eight hours to get out to the moon at this clip, not the three days it took the old Apollo astronauts. Yet we have two years before the mast until we make landfall at MU69, and this on top of a total journey that started 11 years ago.
We won’t have much time there. We can’t slow down in the slightest, let alone go into orbit around it. The best data will come from the single tightly packed hour of closest approach. What should we measure? What’s the cleverest use of our instruments? Right now we’re busy using email exploders, conference calls, meetings to pool all our ideas and then slice them ever, ever finer into a precise second by second mission timeline.
Long before the MU69 encounter we will speak across the solar system with the NASA’s Deep Space Network to the robotic mind of New Horizons. We will send it endless packets of commands, a painstaking and demanding distillation of our ideas, thoughts, wishes, guesses, contingencies, rules—a complete philosophy—to tell it exactly how to explore an unknown world. It now takes over five hours for the microwave signals traveling at the speed of light to reach New Horizons, but the spacecraft listens still, a beautiful ship ever responsive to the right touch at the helm. We call ourselves scientists, but we are sailors, too.
In the background on my laptop I’m streaming KUAT, the local Tucson classical music station. Smetana’s “Ma Vlast” is playing, a deeply romantic epic with energy that seems to fill the immense space stretching out in front of me. I know that it comes across the net as a long string of numbers—data converted by software into sounds. Likewise, the treasures returned by New Horizons from distant lands are just other numbers—pixels to be recorded, processed, analyzed, modeled by cool, logical, mathematical algorithms. But like the music, their impact is profoundly emotional—strange visions of places never imagined—startling discoveries that will shine a bright light into the darkness. We don’t know what awaits us at 2014 MU69, but it will touch our hearts as much as our minds.
The views expressed are those of the author(s) and are not necessarily those of Scientific American.
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Trump's Presidency Will Be a Disaster for Public Education



Credit: Dana Hunter

I didn't post here until recently because America's election of the least qualified president in our history has me scrambling to assess and mitigate the damage. Much of what he's done so far doesn't yet touch on geology, which is what this blog is mainly concerned with - but we will be talking about the threat to our national parks, and there will doubtless be impacts on the USGS and other agencies responsible for essential geological services like volcano monitoring, seismic studies, and similar.
Trump is already showing which direction he's taking the country's public education. If you care about kids being taught science, you'd best gird yourself for a war, because we're going to have to fight to preserve our children's right to a strong STEM education.
To begin with, Trump's Vice President, to whom he plans to delegate most of the actual presidential work, is an evolution-denying Christian extremist who wants creationism taught in public schools. He's also brought all his political power to bear on overturning the will of Indiana voters while he pushes for expansions of school vouchers and charter schools.
Trump also plans to slash NASA's earth science division, which would not only cripple our nation's climate change research, but also have a terrible impact on earth science research.
That rather sets the tenor for what's to come.
But Pence is merely the beginning. It gets worse.
Liberty University's Center for Creation Studies is a dynamic, teaching-based academic center. Our purpose is to research, promote, and communicate a robust young-Earth creationist view of Earth history. Beginning with sound Biblical interpretation, we seek to understand how science can inform us about God's magnificent creation.
The Center's activities are wide-ranging, both within and without the campus of Liberty University. In addition to our two courses (CRST 290 and CRST 390) which serve LU students, we regularly sponsor prominent speakers representing young-Earth creationism and Intelligent Design to the LU community, provide in-service lectures to LU faculty, and produce informative museum displays on young-earth creation. Our faculty are also regularly requested for speaking engagements both locally and far beyond, with invites from schools, organizations, and churches from California to Canada.

PURPOSE

The purpose of the Center for Creation Studies is to promote the development of a consistent biblical view of origins in our students. The center seeks to equip students to defend their faith in the creation account in Genesis using science, reason and the Scriptures.
So. Trump's first pick to oversee our public education was a young earth creationist whose private Christian college teaches that Genesis is literal history and the earth is less than ten thousand years old. If you want to get an idea of the havoc that wreaks on earth science and the study thereof, I encourage you to read my reviews of Christian creationist textbooks. These are the ideas that are taught in such a curriculum. Do you think a man who promotes those ideas would do a good job ensuring public school kids get an accurate, science-based STEM education?
And before you breathe a sigh of relief thinking that the Dover verdictprevents public schools from teaching such schlock, remember that Trump is going to be able to appoint at least one and possibly several Supreme Court justices. The chances of his people protecting science education are virtually zero.
Falwell ultimately decided not to take the job - not because Trump is a con artist and authoritarian bully, but because his family didn't like it. But Trump loves him, and you can bet he's going to have a direct line to the Oval Office any time he wants to discuss "reforming an overregulated government system that he believes micromanages colleges and universities." This should chill anyone who believes America needs strong public schools, colleges, and universities.
So Trump went with his second choice: a conservative Christian billionaire who also loves charter schools and vouchers for private (including religious) schools. She pours money and support into anti-evolution Christian schools and organizations like Grove City College and the Willow Creek Association. Betsy DeVos has been a disaster for education in Michigan. Now, she's being given the chance to push that failure of an agenda nationwide.
If you're horrified, you need to get involved. There are a lot of ways you can help protect America's schools from the worst excesses of the Trump regime.
There will be many other opportunities to help, whether you're mentoring a student or marching in a protest. Stay informed, stand ready, and fight for STEM.

John Glenn, First American in Orbit, Falls Ill in Ohio


John Glenn and his wife Annie on February 20, 2012, during a ceremony at Ohio State University honoring the 50th anniversary of his historic orbital spaceflight, a first for the United States. Credit: NASA/Bill Ingalls
Former NASA astronaut and U.S. senator John Glenn, the first American to orbit the Earth , has spent over a week in an Ohio hospital.
Glenn, now 95, was admitted to the James Cancer Hospital in Columbus, Ohio last week, the Associated Press reports. No information about his condition or diagnosis has been made public at this time. Communications officer Hank Wilson of Ohio State University's John Glenn College of Public Affairs said that Glenn doesn't necessarily have cancer, despite the hospital's title.
John Glenn became the first NASA astronaut to orbit the Earth in 1962 during his Friendship 7 mission, which was part of NASA's Project Mercury spaceflight program. After retiring from NASA and the U.S. Marine Corps in 1964 and 1965, consecutively, he worked as a business executive until being elected U.S. senator for Ohio in 1974, where he served until 1999. In 1998, Glenn returned to space, setting the record for the oldest space traveler when he flew on the space shuttle Discovery at the age of 77. [Photos: John Glenn, First American in Orbit]
Earlier this year, the Port Columbus International Airport was renamed after Glenn. During a ceremony at the airport, Glenn noted that his eyesight had deteriorated from macular degeneration after a small stroke. 

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