sexta-feira, 20 de abril de 2018

INTRODUÇÃO A CARIDADE DOGMÁTICA


ESTUDO DIRIGIDO SOBRE A CARIDADE
MODULO I
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SUMÁRIO

1 Introdução.......................................................................................03
2caridade............................................................................................04
2.1 A caridade, virtude suprema.................................................... 04
2.2 A caridade como prática.............................................................05
2.3 A caridade e esperança...............................................................06
2.4 A caridade e o pecado................................................................08
2.5 A caridade e os desafios do mundo moderno...........................09
2.6 Outras visões e práticas sobre a caridade................................10
Considerações Finais..........................................................................12
Referências.........................................................................................13


1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho, não tendo objetivo de ser exaustivo, procurará mostrar uma investigação acerca da caridade, uma das virtudes teologais. Antes de aprofundar o sentido da caridade vamos conhecer um pouco de como surgiu as virtudes, para assim compreender melhor a virtude da caridade.
Vejamos como as virtudes foram abordadas na história da Igreja de acordo com o dicionário de teologia.


Filão, filósofo hebreu da religião, e Clemente Alexandrino, tentaram reconhecer nas Escrituras do A.T. (Sab 8, 7) a doutrina grega das virtudes cardeais. Santo Ambrósio expressou por primeiro a idéia de que Cristo é o fundamento das virtudes cardeais; São Jerônimo, seu contemporâneo, fala delas como uma quadriga que leva direto a Cristo, o cocheiro fiel. Agostinho, Gregório Magno, João Damasceno, Alcuíno, Rábano Mauro, Pedro Lombardo são os maiores portadores da tradição, e conduziram adiante a idéia de expor os deveres humanos em uma série lógica de virtudes. Enfim, Santo Tomás de Aquino fez oficialmente desta idéia o princípio da estrutura e da divisão de uma doutrina moral filosófica-teológica que inclui seja as quatro virtudes cardeais (prudência, justiça, fortaleza, temperança) seja as três virtudes teologais (Fé, Esperança Caridade-Amor). Por motivo da acuidade e coerência da apresentação de Santo Tomás, ela tornou-se já clássica. Fundamentando-se sobretudo em, Aristóteles, Santo Tomás expôs também explicitamente o conceito de virtude em todos os seus elementos e o inseriu na antropologia teológica.


Podemos observar que a caridade como virtude teologal não é algo novo, mas já era aprofundado pelos padres desde o início da Igreja. Assim, este trabalho tem por finalidade mostrar o que é a caridade, qual é a visão da Igreja e em que fundamentos se baseia a caridade dentro dela; a prática da caridade na vida dos santos, que têm como fundamento principal o amor que vai gerar a caridade. Outros aspectos que abordaremos são a caridade e a esperança; caridade e o pecado. Daí passaremos a conhecer os desafios da caridade dentro do mundo moderno, em que os pontos importantes da caridade facilitam a compreensão dos pontos decisivos e necessários para a vida dos homens, que procuram dar sentido à prática virtuosa, de forma evangélica segundo os frutos da caridade no mundo. E, por fim, abordaremos outras visões e práticas da caridades em outras religiões.
Em outras palavras, este trabalho pretende apresentar que a caridade, antes de tudo, representa a vida do mundo em Cristo, zelando também pelo mundo do homem. Através da caridade, várias virtudes serão frutos da vocação em Cristo.

2 CARIDADE

“Agora, portanto, permanecem fé, esperança, caridade, essas três coisas. A maior delas, porém, é a caridade” (1 Cor 13,13)

2.1 A CARIDADE, VIRTUDE SUPREMA

Seguindo a mesma temática da caridade na visão da Igreja falaremos sobre a caridade como virtude suprema. Em suma, caridade suprema na perspectiva do cristianismo resume no “amor”. Amor de Deus que nos criou, amor de Deus que dá seu filho pra nos salvar (doação na cruz), pelo qual, nos ensinou toda a condição de amarmos a Ele, a nos mesmo e ao próximo. Isto porque Cristo é O revelador da caridade de Deus e é Nele que o amor de Deus se manifesta em nos.
Amor a Deus: a primeira obrigação maior que o ser humano tem é amar a Deus, “e amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda a tua alma, de todo a teu entendimento, e com toda a tua força.” (Marcos 12,30) Isto quer dizer que temos que amar a Deus sobre todas as coisas. Ele nos criou, é infinitamente digno de ser amado e nos amou bem antes de existirmos.
O amor a nós mesmos:
Dentro da virtude da caridade está presente também a amor a si mesmo: mas é evidente que deve ser um amor ordenado, buscando os verdadeiros bens da alma e do corpo em relação á vida eterna. Se alguma vez desejássemos algo que nos afasta de Deus, nós não estaríamos amando-nos de verdade, por nos afastarmos de nosso fim real que é o único que nos pode fazer felizes.

Amor ao próximo: a caridade para com o próximo pressupõe respeitar seus direitos de justiça, mas exige também praticar as obras de misericórdia, ajudando-os em suas necessidades e espirituais, a saber: ensinar aquele que não sabe, dar bom conselho a quem necessitar, corrigir aquele que erra, perdoar as ofensas recebidas, consolar os tristes, sofrer com paciência os defeitos alheios e rogar a Deus pelos vivos e defuntos. E também as materiais, a saber: visitar e cuidar dos enfermos, dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar pousada ao peregrino, vestir o nu, redimir o cativo e enterrar os mortos. Observando estas obras não excluímos a ninguém nem mesmo nossos inimigos e consequentemente imitamos o que Jesus fez.
Assim, concluímos que a caridade é a virtude mais importante do cristão, enquanto peregrinamos nesta terra, e será também a nossa ocupação no céu, onde não existirá mais a fé, porque veremos Deus face a face, nem existirá a esperança, porque teremos chegado à meta final, somente permanecerá a caridade, isto é, “o amor”.

2.2 A CARIDADE COMO PRÁTICA

Como vimos anteriormente, a caridade cristã é totalmente baseada na Sagrada Escritura. São Paulo Apóstolo diz que “a caridade de Cristo nos compele.” (2 Cor 5,14). Assim, a caridade torna-se o complemento da Lei da justiça, porque amar ao próximo é fazer todo bem possível, que desejaríamos que fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus. “Amai-vos uns aos outros, como irmãos”.
Santo Afonso Maria de Ligório, no século XVIII, em sua obra A Prática do Amor a Jesus Cristo, cita São João Crisóstomo que diz também que os frutos gerados em uma pessoa possuem o amor de Deus:

Quando o amor de Deus se apodera de uma pessoa, produz um insaciável desejo de trabalhar pela pessoa amada; tanto que seja o tempo que, por muitas e grandes que sejam as obras que faça, e por mais longo que seja o tempo dedicado a seu serviço, tudo lhe parece nada. Sempre se aflige por fazer pouco para Deus, e se fosse lícito morrer e consumir-se inteiramente por ele, de bom grado a faria. Por isso, faz sempre que se considera inútil. O amor ensina a pessoa o que Deus merece, e na claridade desta luz divina vê todos os defeitos de suas ações, de tudo teria confusão e sofrimento, se conhecendo que todos os seus trabalhos são bem poucas coisas para um tão grande


Assim, se fôssemos apresentar os pensamentos e as práticas de caridade, passaríamos horas e horas, mas aqui vale ressaltar a figura de Santa Terezinha do Menino Jesus, que tinha a caridade como doação a Jesus, em amá-lo e amar aos irmãos, através do serviço e da oração. A sua prática de caridade tornou-se presente dentro do próprio convento. Conta-se que Santa Terezinha “consistia, sobretudo na completa disponibilidade para com as irmãs. Nunca se mostrava enfastiada quando procurada para algum serviço a fazer ou para alguma ajuda a dar. Ao contrário, embora muito ocupada, mostrava-se contente. Quando, realmente, não podia atender ao pedido, recusava-se com tanta delicadeza a ponto de fazer desaparecer todo sinal de tristeza do rosto de quem não podia ser contentado.” Santa Terezinha, através da caridade, fez uma prática de amor a Deus e a sua comunidade religiosa.
Também podemos destacar a figura de Santa Edith Stein ou Edith Terezsa Hedwig Stein que, a beira da morte no campo de concentração, não deixou de fazer a caridade em nome de Deus e dos irmãos como disse Julius Markan, comerciante hebreu de colônia, que era encarregado de vigiar os prisioneiros:

Entre os prisioneiros que me foram entregues no dia 5, irmã Tereza Benedita me impressionou por sua grande calma e pela paz que difundida em torno de si [...] Irmã Tereza se interessava pelos pobrezinhos, lavava-os e penteava-os, ia buscar comida para eles e cuidava deles em tudo. Durante todo o tempo de sua permanência no campo, dedicou-se a lavar e fazer limpeza, ocupando-se continuamente de obras de caridade, suscitando admiração de todos.


Exemplo de Santidade mesmo nos momentos de dor e sofrimento se doando na caridade no amor perfeito a Deus e ao próximo.

2.3 CARIDADE E ESPERANÇA

A caridade não existe por si mesma, ou melhor isolada, e assim são as virtudes teologais uma depende da outra. A fé só tem sentido acompanhada da caridade e a caridade deve ser acompanhada da esperança.
A caridade ou o “amor” deve ser pensada não somente em socorrer materialmente ou fisicamente os irmãos pobres por várias circunstancias ou doentes e deficientes, mas também espiritualmente. A solidariedade parte no âmbito social seria um grupo, uma entidade, procurando também várias pessoas e não só uma pessoa isolada é uma forma de compromisso com próximo. Portanto, as urgências particulares nunca podem ser esquecidas.

Nunca só a graça. Também contam os componentes humanos. A fé não se define como disposição divina que atua sobre a pessoa deixando-a, por assim dizer, de fora. Não. A atividade humana continua legítima e, até mesmo, necessária, sem ela a fé não será fé (Gl 5,6). Deus e a pessoa, o divino e o humano, a criatura e criador, perfazem um todo incomensurável. A graça não torna inútil a natureza humana. O ser humano colabora intimamente com o criador. Crer é ato autenticamente humano, conforme à liberdade, conforme à vontade, correspondente à dignidade da pessoa. Santo Tomás de Aquino ensina: “crê é um ato da inteligência que assente à verdade divina a mando da vontade movida por Deus através da graça”. (S.Th. 2-2,2,2,9).
Deus age e a pessoa reage: escuta, observa, duvida, interroga, amadurece. E procura uma resposta adequada a proposta divina. Depois de coração sincero acredita e se entrega pela fé. Apropria-se de Deus no mais íntimo do seu ser. A pessoa dá a resposta à proposta de Deus pela fé. Responde pelo temor de Deus, pela obediência amorosa à palavra de Deus, pela confiança absoluta, pelo o testemunho, pela perseverança e em fim pela esperança.
A fé feita só de palavras, de conceitos não tem valor, não proporciona vida e salvação por ela anunciadas. As maiores dificuldades da fé não são racionais, mas, existenciais: o medo do risco de se comprometer com todas as conseqüências que o compromisso implica.as verdades da fé afetam a vida de quem crê naquilo que esta vida tem de mais profundo. Quem crer tem que aderir ao bem, pois sua vontade está aliada a ele. A fé cria o dever de amar o bem, porque além de ser um ato religioso de encontro pessoal com Deus é, também, uma opção decisiva face aos valores criados. Implica, portanto, o dever de obedecer em tudo o Senhor.
Saber, portanto, cada um ler sua história em que se está envolvido com um olhar de fé. A fé pode ser posta à prova. Caminha na noite das crises de sentido. Enfrenta as fragilidades das mediações. Mas, sabe viver com a perplexidade, ou seja, a ausência de certezas e de paradigmas satisfatórios, a busca de caminhos novos, a abertura ao imprevisível, a atenção e a escuta. Compartilha a própria perplexidade como forma de esperança. Resiste como forma de esperança.
Percepção e intuição que devem estar presentes e animar todas as esperanças e os anseios da pessoa de fé. O cerne da esperança cristã hoje é o futuro relacionamento de amor dos filhos com o Pai tendo Jesus como único mediador e caminho (Jo 14, 1-12). As promessas de Cristo não deixaram de ter sentido. É em torno dele, pedra angular, que se organiza o êxito da aventura de cada pessoa. Deus não mudou. Estamos nas mãos daquele que é fiel. Mas, se temos confiança em Cristo somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens. (1cor 15,19). “Sem esperança escatológica é impossível viver a vida cristã. Ela seria pura repressão, a mais perversa e refinada.”
O amor é a forma pela qual se expressa a fé. Importa sentir-se incluído naquilo que se professa. Fé e amor, fé e caridade, entrelaçamento e mútua pertinência intrínseca, não obstante, em distinção meramente lógica, ser a função da inteligência anterior à da vontade. A fé ama e a caridade crê e sustenta a esperança.
É na estrutura da fé que as pessoas se sustentam nos seus momentos mais graves. Quando há dúvida no saber, o que há duvida para explicar, a pessoa de fé procura viver com sentidos estas realidades e esperar, abandonando-se ao mistério último, crendo. A fé liberta de todo medo, dá ao cansado e vencido nova força; ao desesperado profundo estímulo, e todos júbilo e redenção. Porque Deus é nosso parceiro e aliado, devemos sentir iluminados por esta fé, esta certeza e esta esperança.

Ajudar as almas: zelo apostólico, caridade pastoral, o imã unificador e totalizador de suas ações, ajudar as almas, minimamente, em nada mesmo, significa descuido das dimensões sociais e comunitárias ou não espirituais. O amor ao irmão se revela como síntese última da vida humana e sua refinada expressão teologal.
A essência do cristianismo consiste no anúncio da presença atuante de Jesus Cristo, no exato ensinamento e doutrina a seu respeito, por força do seu Espírito em sua Igreja que é seu corpo.
Na fé, intelecto e vontade são reciprocamente imanentes. Formam aquela união indivisível, indispensável para o ato de fé. Aliás, a fé a esperança e a caridade interdependem mutuamente em razão do objetivo que buscam; o próprio Deus. Quem crer é em essência uma pessoa que espera. Esperar é crer no amor. Crer é possuir antecipadamente o que se espera.

2.4 A CARIDADE E O PECADO

“O pecado é sempre o homem fazendo-se o deus do homem. Querendo divinizar-se, mergulhou na matéria e no orgulho insensato. Afastou-se dos caminhos de Deus e tornou-se incapaz de reencontrá-los. Imensa nas trevas não mais podia atingir a luz. Segundo São Paulo, já não existia um único justo, um único homem de valor.” Assim, “o pecado é o gesto do homem que recusa radicalmente o amor, ou do homem que se deixa guiar pelos amores mutilares. E desobediência, injustiça, ingratidão em relação a Deus, suma bondade. E recusa do amor. Deus faz tudo por amor de nós; suas exigências nascem do amor, e têm por objetivo o nosso desabrochar na caridade. Pecar é ferir seu amor, contrariá-lo e, de certo modo, desprezá-lo.” Mas, se voltarmos para a misericórdia, o homem que é injusto e pecador sente a necessidade de reparar sua falta como forma de arrependimento, surgindo o que muitas das vezes já ouvimos ou vimos pessoas fazendo práticas de caridade para pagar por um pecado cometido em sinal de arrependimento, ou até mesmo para ter a consciência tranquila. Em que consistiria esse fato? Será a caridade como algo para reparar a ofensas cometidas?
Com isso podemos entender que o cristão deve se esforçar em viver a caridade no mundo, deve se cada vez mais procurar dispor sua vida, principalmente o que tem de mais privado, que seja boa ou má, deve ter um duplo aspecto: o individual e o social. Com efeito, o que o homem tem de moral pessoalmente, tem, por sua vez, importância social, pois dela depende muito a sociedade humana que é o povo de Deus e que, portanto, é chamado a participar da graça de Cristo. Sendo o amor a base para atingir a plenitude de amar a Cristo e ao próximo e a prática da caridade como a reparação das ofensas, sendo os sinais e gestos como amor a Deus e ao próximo já que o humano é condicionado a amar. Vale ressaltar que a caridade não é algo para reparação dos pecados, mas é amor a Cristo e aos irmãos, como é expresso por Denzinger:

A doutrina de Cristo estende o mandamento do amor a todos os inimigos [...] Cristo enviou a todos os homens o Espírito Santo para que este se mova a amar a Deus de todo o coração e a amar-se mutuamente [...] o amor como forma de missão da Nova Aliança e plenitude da lei [...] a ordem evangélica é a ordem do amor; a misericórdia como doutrina fundamental da mensagem messiânica de Cristo e força de sua obra [...]. Todos os fiéis são chamados à perfeição do amor.


2.5 A CARIDADE E OS DESAFIOS DO MUNDO MODERNO

Diante de um mundo moderno em que o individualismo tem se evidenciado, como podemos praticar a caridade? Como a Igreja se coloca diante dessa situação?
Acreditamos que uma das respostas já foi dada pela Igreja com o documento Gaudium et Spes que reflete a revelação a partir da realidade, claro que a Igreja não busca soluções imediatas, até porque ela sempre busca a dignidade humana, respeitando seus limites. Assim, os cristãos diante dos desafios do mundo moderno não devem ser pessimistas, e a Gaudium et Spes apresenta de forma bem clara que a Igreja está no mundo, havendo uma necessidade e obrigação dos cristãos produzirem frutos para a vida no mundo, obrigação que está intrinsecamente vinculada à sublime vocação em Cristo que trouxe para o homem e de seu mundo, tudo o que fosse possível, como homens iluminados pela fé cristã e movidos pela graça. Reafirmando o que a Gaudium et Spes apresenta a dignidade da pessoa humana e dos direitos do homem, da solidariedade, da justiça, social e de diversas ordenações devem realizar-se entre os homens, de como devem incentivar o matrimônio e a vida familiar, do incentivo da cultura humana, da vida econômica e social, das comunidades políticas a até mesmo da comunidade internacional, deve constituir-se, devidamente, dentro do espírito cristão.
Apesar das grandes dificuldades que temos com relação ao mundo moderno ainda ouvimos falar em caridade. Porém, usadas muitas das vezes sem o sentido apropriado, por isso o Papa Pio XII, vai alertar que a “caridade é a palavra às vezes usada livremente para significar uma espécie qualquer de atividade benévola ou filantrópica. Todavia, caridade tem um significado sacro e consagrado. A caridade é diversa de qualquer outro amor humano porque é uma réplica do amor de Cristo para com o homem. ‘Dou-vos um novo mandamento, que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei.’ São Paulo escreve aos Romanos ‘Ajudai-vos uns aos outros como Cristo vos ajudou para a glória de Deus’ (15, 7). Isto é caridade.”
Portanto, diante desse mundo moderno, o Papa Pio XII ainda vai dizer que desejaria “ver todos os jovens unidos na mente e no coração em alguma obra de caridade. Não se trata de dar dinheiro: trata-se de dar a si mesmo. Tal apostolado reavivar-lhes-ia a fé, daria direção e estabilidade a uma correta atitude diante das coisas frívolas da vida, acordaria a potência do exemplo e contribuiria potentemente para remediar os males da desigualdade social e de raça.” Assim, a “caridade, porém, não deve jamais olhar para trás, mas sempre para frente” até porque o “número das obras realizadas é sempre pequeno enquanto que as misérias presentes e futuras que ocorre consolar, são sem fim.”
Assim, diante dos desafios que encontramos no mundo moderno não deixamos de ter pessoas que lutaram pela caridade em nome do amor de Cristo e do irmão, um exemplo bem claro para a sociedade atual foi Dom Helder Câmara que fez de sua vida um doação aos pobres e abandonados em nome de Cristo, como ele próprio dizia: “A caridade é Amor e Amor és Tu, Senhor Deus! A caridade é infinita como Tu [...]. As injustiças atingem a um nível tal, que a caridade dos nossos tempos consiste, antes de tudo, em ajudar a fazer justiça, sem esquecer que é Amor [...]”

2.6 OUTRAS PRÁTICAS DE CARIDADE

Isto que vimos é a caridade cristã, porém há outras práticas de caridades que devem ser levadas em conta, sobretudo, as das grades civilizações e religiões não Cristãs. Por isso, achamos conveniente abrir um parêntese, pra citá-las neste trabalho.
Caridade na civilização: entre as civilizações antigas destaca a egípcia, ela teve uma idéia humanitária mais elevada. Como? Igualdade na justiça, direitos da mulher e das crianças, direito dos escravos, ajuda devida aos miseráveis, o culto a divindade era ligada à assistência aos pobres. Numa inscrição da V dinastia (2563-2422 a.C) um funcionário declara “Distribuí o pão a todos os famintos do monte Arato, vesti quem estava nu.”
Caridade no Budismo: com suas doutrinas do grande Veículo (Mahayana) o seu conceito de caridade é o da benevolência (maitri). “Não há nada mais poderoso do que a maitri. Jamais o ódio extinguiu o ódio. A benevolência extinguiu o ódio. Esta é a lei eterna.”
Caridade no Hinduísmo: a ética está ligada ao darma que é a conduta boa e justa. O não-apego é um dos motivos fundamentais da ética hindusta. Dela decorre a idéia de se evitar o mal-impureza e da sanção legalista do ato pecaminoso realizado. Para eles o mérito nasce do compromisso do homem com os outros homens e com o mundo. A ação moralmente válida abre-se, assim, para a benevolência ativa maitri, para a capacidade de tolerância em relação a tudo e a todos.
Caridade no Islamismo: dos cincos pilares que sustentam a sua doutrina, o segundo lugar é ocupado pela esmola (zakat), etimologicamente “pureza”, que é a caridade entendida pelo Alcorão como ato que purifica as riquezas da glória mundana e propicia a prêmio eterno. A zakat, como os dízimos judaico-cristãos, é contribuição obrigatória, porém, com fins diferentes. Destina a ajudar os pobres, os escravos que pretendem libertarem-se, os viajantes carentes de meios, os voluntários da guerra santa, assim como a estimular a conversão dos pobres ao islame.
Portanto, como vimos a da caridade está inerente a natureza humana. Não importa a crença, religião ou outra entidade divina. O importante é que todo homem tem tendências para praticá-la, embora não praticamos como devemos praticar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi apresentado sobre a caridade podemos considerar que ela é a virtude primordial na vida dos cristãos, ela é o caminho que deve mover a humanidade nas obras dentro dos conceitos cristãos. Como diz São Bernardo, citado por Santo Afonso na obra A prática de Amor a Jesus Cristo: “Grande coisa é o amor”. Salomão, falando da sabedoria divina, que não é outra coisa senão a caridade chamou-a de tesouro infinito, porque quem tem a caridade torna-se participante da amizade com Deus. E além desses, cita Santo Tomás de Aquino que afirma: “A caridade é a rainha das virtudes; onde reina a caridade, aí aparece todas as outras virtudes, como um cortejo, encaminhando todos a unir-nos mais a Deus. Mas, como diz São Bernardo, propriamente é a caridade a virtude que nos une com Deus”.
Portanto, este trabalho realizado proporcionou para nós um melhor conhecimento sobre a caridade, confirmando que a caridade é uma das virtudes teologais pela qual amamos a Deus e ao próximo, como já dizia São Francisco de Sales: “Não conheço outra santidade senão a de amar a Deus de todo o coração; todas as outras virtudes sem este amor não passam de um montão de pedras.” Ao refletirmos sobre a caridade criamos uma visão maior sobre essa virtude para assim podemos praticá-la e chegarmos ao verdadeiro bem que é amar a Deus e ao próximo.

REFERÊNCIAS

- A Caridade em tamanho grande. Inspetoria São João Bosco. BH MG. 1991.
- Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2008.
- CÂMARA, Helder. Em Tuas Mãos, Senhor! São Paulo: Paulinas, 1986.
- CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 1993.
- Caridade e Esperança. Encíclica do Papa Bento XVI.
- CHINIGO, Michael. Pio XII e os problemas do mundo moderno. Tradução Pe. José Marins. 2. ed. São Paulo: Melhoramentos. 1959.
- DENZINGER, Heinrich. Compêndio dos símbolos, definições e declarações de fé e moral. Tradução: José Marino e Johan Konings. São Paulo: Loyola, 2007..
- DI BERARDINO, Pedro Paulo. A Solidão em Santa Terezinha do Menino Jesus. Tradução e Revisão Carmelo do Imaculado Coração de Maria e Santa Terezinha. São Paulo: Paulus, 1995.
- Dicionário de Espiritualidade. São Paulo, 2 ed. 1993
- FRIES, Heinrich. Dicionário de Teologia – Conceitos fundamentais da teologia atual. 5. ed. São Paulo: Loyola, 1971.
- GARCIA, Jacinta Turolo. SCIADINI, Patrício. Edith Stein: Holocausto para seu povo. São Paulo: Loyola, 1987.
- LEBRET. L. J. Dimensões da caridade. Tradução M. Conceição Goulart Pacheco. 3.ed. São Paulo: Duas Cidades. 1959.
- LIGÓRIO, Afonso Maria de. A prática de Amor a Jesus Cristo. Tradução Gervásio Fabril dos Anjos São Paulo: Santuário, 1996.
- LIMA SBD, Pe. Marcos de. O Que é a fé?. Loyola. 1998
- PUJOLL, Jayme, Jesus Sanches. Apostolado Veritatis Splendor: A caridade Virtude Suprema


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