Apesar do grande interesse das pessoas por assuntos que envolvem a sexualidade, do ponto de vista neurológico o orgasmo foi por muito tempo um processo misterioso. Hoje, porém, já se sabe que faz parte do êxtase a redução do nível de consciência, alterações da percepção corporal e diminuição da sensação de dor, graças a técnicas de imageamento cerebral, que há pouco mais de uma década passaram a ser usadas para estudar mecanismos do prazer sexual. O curioso é que, no âmbito do cérebro, efeitos muito similares podem ser causados tanto por experiências religiosas quanto pelas puramente mundanas, como o orgasmo. Nos dois casos, podem ocorrer simultaneamente a experiências difíceis de ser descritas com palavras, como perda do sentido de identidade e dos limites corporais.
“Uma das descobertas recentes mais interessantes nessa área é que, embora o lobo frontal esquerdo esteja ligado ao prazer, essas manifestações são processadas em ambos os lados do cérebro”, observa a pesquisadora da Escola de Ciências Biológicas, Biomédicas e Molecular da Universidade New England Gemma O’Brien, formada em neurofarmacologia e fisiologia. Em um dos estudos que se baseiam em técnicas de observação do cérebro em funcionamento, o hemisfério direito parece ser o mais ativo durante o sexo. Nos exames de neuroimagem, essa área se torna tão iluminada durante o orgasmo que em um estudo, quando a maior parte do cérebro permaneceu escura, o córtex pré-frontal direito parecia uma ilha brilhante. Embora cada vez mais se fale de integração entre os dois lados cerebrais, novas pesquisas sugerem que o direito é hiperativo em pessoas com comportamento sexual exagerado em razão de algum dano neurológico, em que aparecem sintomas específicos. Por exemplo, o paciente toca o próprio corpo e se masturba em público sem sentir vergonha e faz propostas de conteúdo sexual a qualquer um que lhe pareça remotamente atraente.
O mais surpreendente nisso é que o prazer não está classicamente associado ao hemisfério direito – e sim ao esquerdo, mais ativado quando recordamos situações agradáveis, experimentamos sentimentos amorosos e em momentos em que temos pensamentos de grandiosidade (como nos casos de mania). O hemisfério esquerdo é particularmente menos ativado em ocasiões de introspecção e infelicidade.
O doutor em psicologia Roy Baumeister, professor da Universidade Estadual da Flórida, que tem pesquisado os processos de autoconsciência, considera que o orgasmo – assim como os estados mentais proporcionados pela meditação profunda – ofereça uma espécie de breve alívio para a constante vigilância em que nos mantemos na maior parte do tempo, preocupados conosco, com as expectativas alheias e com nossas necessidades. Nesse sentido, o orgasmo funcionaria como um “freio” em áreas do cérebro responsáveis pelo julgamento, pela comparação, pelo planejamento e pela necessidade de autocontrole.
Esta matéria foi publicada originalmente na edição de outubro de Mente e Cérebro, disponível na Loja Segmento: http://bit.ly/2ekCMnU
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