Todo mundo sabe o que é deja vu, mas esse não é o único fenômeno misterioso relacionado ao cérebro que vivenciamos todos os dias. Nosso cérebro é um órgão incrível, mas muito difícil de estudar, e só com os avanços científicos relativamente recentes temos sido capazes de examinar fenômenos mentais comuns, mas extremamente bizarros, como os a seguir:
10. Lavagem cerebral
Lavagem cerebral é a prática de mudar completamente a forma como uma pessoa pensa ou no que ela acredita, utilizando técnicas hostis. Muitas vezes usada em prisioneiros de guerra, vítimas de sequestro, e outros em situação parecida, a lavagem cerebral praticamente depende das pessoas estarem em uma posição de subserviência. Envolve a destruição de tudo o que a vítima acredita sobre si mesma. É uma estranha combinação de abuso físico e mental, juntamente com a promessa de salvação, que cria as condições ideais para essa manipulação. Uma vez que a pessoa acredita que está absolutamente errada em todos os sentidos, a ficha fica “limpa” para que ela seja reconstruída. Também existem outros tipos de lavagem cerebral que são menos óbvios, e acontecem todos os dias, como as propagandas, que são projetadas para serem manipuladoras e mudar sua maneira de pensar. Até mesmo os amigos que tentam manipulá-lo a fazer algo praticam uma forma leve de lavagem cerebral.
Pouca coisa se sabe sobre como ela realmente funciona e quão bem sucedidas diferentes técnicas são, porque replicá-las em um ambiente formal de investigação é considerado altamente antiético, por razões óbvias. Grande parte do que sabemos sobre a lavagem cerebral e seus métodos vem de entrevistas com prisioneiros de guerra, mas ainda há muito em debate. Uma teoria geral, no entanto, é que a eficácia da lavagem parece depender muito da autoconsciência e força de caráter de uma pessoa.
9. Prosopagnosia
Prosopagnosia, também chamada de “cegueira para feições”, é uma condição que deixa seus portadores incapazes de reconhecer ou identificar rostos, mesmo os de amigos, parentes e seu próprio. Também pode se manifestar como dificuldade em identificar expressões faciais, em julgar a idade de uma pessoa, ou em fazer contato visual. Aqueles que têm a doença também têm dificuldades de processamento e de recordar outros tipos de memórias visuais, como a identificação de pontos de referência e reconhecimento de objetos inanimados associados a uma pessoa (como um carro ou uma casa). Podem até ter dificuldade em identificar um animal.
Por um longo tempo, a prosopagnosia foi muito mal compreendida. Cientistas pensavam que ela era resultado de um ferimento na cabeça traumático, mas agora sabemos que cerca de 2% da população nasce com a doença. Acredita-se que prosopagnosia congênita é causada por um defeito de desenvolvimento na parte do cérebro responsável por “arquivar” rostos para referência futura, o giro fusiforme. Mesmo com esse entendimento melhorado, a prosopagnosia ainda é muito difícil de diagnosticar, porque os portadores da condição muitas vezes encontram maneiras de compensar a sua incapacidade de reconhecer rostos, gravando vozes, por exemplo.
8. Efeito coquetel
O efeito coquetel é a nossa capacidade inata de separar informação importante do ruído de fundo, como manter uma conversa com uma única pessoa no meio de uma sala lotada. Este fenômeno tem sido difícil de estudar porque monitorar os caminhos exatos de resposta neurológica a qualquer estímulo particular é complicado, mas a ciência está começando a fazer progresso. Em uma busca para saber mais sobre o fenômeno, pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Francisco (EUA) colocaram uma rede de sensores eletrônicos diretamente nos cérebros de pacientes programados para receber uma cirurgia para epilepsia grave. Os pacientes, então, ouviram uma conversa barulhenta enquanto os computadores registravam sua atividade cerebral. Os pesquisadores não só foram capazes de determinar o que estava sendo ouvido, mas puderam mostrar que o cérebro só detectou os padrões de fala relevantes. Em vez de filtrar outras informações como conversas de fundo ou música, o complexo auditivo do cérebro simplesmente as ignorou. Estes resultados podem ser úteis para o tratamento de problemas associados com o autismo e transtornos de processamento de informações.
7. Efeito Tetris
O fenômeno chamado de efeito Tetris é o que acontece quando você passa tanto tempo em uma atividade durante o dia, especificamente uma repetitiva como jogar Tetris, que você sonha com ela à noite. Há uma razão muito boa para isso, e não é um sinal de que você está exagerando em alguma coisa. Pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard (EUA) queriam testar a hipótese de que quando você está sonhando com coisas que fez durante o dia, seu cérebro está aproveitando o tempo de inatividade associado com o sono para reforçar comportamentos que foram aprendidos enquanto você estava acordado. Os participantes em seu estudo foram instruídos a jogar Tetris durante várias horas por dia. Na segunda noite do experimento, a maioria dos participantes relatou sonhar com os blocos familiares. Pesquisadores concluíram que, durante o primeiro dia, o cérebro não reconheceu imediatamente que havia uma necessidade de aprender algo novo, mas a repetição foi uma “chave” que acionou o processamento de informações elevado durante o sono. Um grupo, constituído por ambos novatos e jogadores experientes, apresentou melhora considerável de um dia para o outro. Outro grupo, composto de pessoas que sofrem de perda de memória de curto prazo, não apresentou melhora, o que sugere que os nossos sonhos com Tetris não são um sinal de um vício, e sim apenas o nosso cérebro continuando a aprender enquanto o resto do nosso corpo se desliga para a noite.
6. Apofenia
Apofenia, ou pareidolia, é o termo técnico para o fato de vermos um padrão onde não existe nenhum. É o que nossos cérebros fazem quando vemos uma mancha de água que se parece com a Virgem Maria, ou quando sentamos na grama e ficamos procurando formas conhecidas em nuvens.
O fenômeno foi descoberto de maneira acidental. O psicólogo letão Konstantins Raudive estava gravando o que ele chamava de “conversas com espíritos”, algo que o resto do mundo chama de “estática”. Enquanto alguns cientistas estavam menos do que convencidos pelas alegações de Raudive de que ele havia se treinado para ouvir comunicações espíritas nessas gravações, outros acabaram percebendo que o que o psicólogo estava ilustrando era a tendência dos nossos cérebros de organizar e processar a informação de uma forma que faça sentido para nós. A nossa sobrevivência como espécie conta com a nossa capacidade de reunir informações e criar um “resumo” que contenha uma “conclusão”. Essa capacidade é tão arraigada que nossos cérebros às vezes cometem erros na tentativa de fazer reconhecimento de padrões, o que resulta em ver o rosto de Elvis em um pedaço de pão torrado.
5. Habilidade de multitarefa
A capacidade de multitarefa tem sido muito elogiada no local de trabalho, mas pesquisas recentes sugerem que não é tão eficiente quanto pensávamos. Varreduras do cérebro realizadas durante o ato de multitarefa têm mostrado que, em vez de executar mais de uma tarefa ao mesmo tempo, as pessoas na verdade apenas alternam entre tarefas diferentes. Pior: fazer várias coisas ao mesmo tempo pode levar a uma perda de produtividade de até 40% durante o dia. No final das contas, a multitarefa pode deixar as pessoas mais cansadas, além de frustradas com o pouco que realmente realizaram. A única maneira de fazer duas coisas ao mesmo tempo com sucesso é quando mal percebemos que estamos fazendo isso: quando apenas uma tarefa é intelectual por natureza, enquanto a outra é física. É por isso que podemos processar informação a partir de um áudio, por exemplo, enquanto passeamos com nosso cão. A desvantagem deste tipo de multitarefa é que limita severamente a nossa consciência do nosso entorno.
4. Brainstorming
Na superfície, brainstorming (termo em inglês que pode ser aportuguesado para “tempestade de ideias”, e que representa uma técnica de dinâmica de grupo) pode parecer uma ótima maneira de ter novas ideias e apresentar soluções criativas para os problemas. Porém, na verdade, o ato tem efeito inverso – nos deixa menos criativos e mais propensos a apenas concordar com as ideias das outras pessoas, ao invés de contribuir com as nossas. Há diferentes razões pelas quais brainstorming simplesmente não funciona, mas a principal é que as pessoas são muito preguiçosas. Pesquisadores da Universidade Texas A&M (EUA) chamam isso de “preguiça social“, quando as pessoas se sentam em uma sessão de brainstorming e só ouvem as ideias de outras pessoas, contribuindo com coisas apenas vagamente diferentes. Outros ficam hesitantes em apresentar suas próprias ideias por medo de rejeição, especialmente depois de ouvir sugestões bem aceitas. É mais fácil simplesmente explicar por que você concorda com todas as outras pessoas do que compartilhar suas próprias ideias. Isso, combinado com o fato de que a maioria das sessões de brainstorming duram muito mais tempo do que nossos surtos de criatividade, explica porque elas não dão muito certo.
3. Talento nato
Quando se trata de talento nato, as ideias são conflitantes. Alguns dizem que podemos ser o que quisermos ser, se trabalharmos duro o suficiente. Outros parecem destinados, ou nascidos para fazer tal coisa. A verdade, como sempre, está em algum lugar no meio dessas duas coisas. De acordo com Dianna Richardson, instrutora de música, existem talentos natos em pessoas inexperientes. Se manifesta em jovens estudantes que mostram capacidade natural para manter o ritmo e diferenciar o passo, mas é absolutamente incentivado por treinamento formal. Todo o talento cru pode continuar não refinado, sem o desenvolvimento dessas habilidades, e sem reconhecimento. Dedicação e motivação desempenham um papel enorme no talento.
O talento pode ser mais precisamente pensado não como uma inclinação para uma habilidade em particular, mas como um conjunto de traços de personalidade que tornam uma pessoa mais propensa a se destacar em um campo particular. Nossas personalidades e perspectivas estão sempre mudando, e isso é uma razão pela qual algumas pessoas não “descobrem” seus talentos escondidos até que estejam mais velhas. Pode ser que só então fatores externos, como tempo para a prática, ou encontrar um treinador ou mentor, permitiram que objetivos fossem definidos e caminhos descobertos.
2. Sensações fantasmas
A maioria dos amputados relatam sentir sensações e dor onde seus membros costumavam estar. “Sensações fantasmas” podem ocorrer até em não amputados, como o ato de sentir o telefone vibrar no bolso, mas perceber depois que ele não tocou. É o mesmo princípio em trabalho. Pesquisadores da Universidade de Vanderbilt (EUA) determinaram que diferentes partes do cérebro fazem ligações a certas partes do corpo, como um braço ou uma perna. Quando o membro é removido, as conexões que existem para ele permanecem ativas até que o cérebro lentamente se remapeie para se ajustar a essa nova condição. Pessoas que sentem vibrações de telefone fantasmas têm padrões neurais semelhantes aos que estão sentindo dor em um membro fantasma. Se seu telefone toca constantemente, você treina seu corpo a se familiarizar com a sensação, e seu cérebro trata o telefone como um apêndice. Essa é uma declaração vagamente preocupante sobre quão ligados a nossa tecnologia nos tornamos.
1. Fosfenos
Este fenômeno é algo com que todos nós estamos extremamente familiarizados, mas tendemos a nem pensar sobre. Se você esfregar seus olhos fechados, vai “ver” um arco-íris virtual de cores, formas, rabiscos e linhas. São os fosfenos, e o olho e o cérebro trabalham juntos para criar essas formas. Elas ocorrem quando não há estímulo visual externo. Isso pode acontecer quando você fecha os olhos, ou quando está focado em um cenário vasto, monótono e com pouca ou nenhuma mudança, como uma estrada escura à noite. Pessoas que passam longos períodos de tempo em privação sensorial ou meditação frequentemente relatam visões, provavelmente os fosfenos.
Estímulo físico para os olhos, como empurrar o globo ocular, pode criar fosfenos temporários, e eventos mais traumáticos, como ferimentos na cabeça, podem criar visões permanentes. Nestes casos, os fosfenos aparecem porque os centros visuais do cérebro estão ativos sem a presença de estímulos visuais externos. Por exemplo, pacientes submetidos à cirurgia cerebral mantidos conscientes que recebem estímulo em diferentes áreas de seus cérebros relatam ver fosfenos. Em estudos com pessoas cegas, o aparecimento de fosfenos acontece em diferentes áreas entre o olho e o cérebro, dependendo de que parte do sistema visual foi danificada.
Os seres humanos não são os únicos que podem ver essa “dança de luz e cor” nos olhos – o fenômeno tem sido observado em animais também. [Listverse]
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