O mundo tem um árduo caminho pela frente se quiser evitar que o aquecimento da superfície da Terra supere 2 graus Celsius, o limite a partir do qual causaremos graves danos ao planeta. Esse número serve de guia para os compromissos que muitos países vão assumir em Paris, na 21ª Conferência das Partes (COP-21) da Convenção-Quadro das Nações Unidas dobre Mudança do Clima, a fim de reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa.
Mas alguns críticos declararam que a meta de não ultrapassar o aumento médio de 2oC é impossível de ser alcançada, alegando que não poderíamos empregar em tempo as tecnologias necessárias para descarbonizar a economia. Sim, nós podemos. O obstáculo não é físico. Ele depende de vontade política e social.
Ninguém disse que será fácil. Mais de 70 especialistas em clima que atuaram como conselheiros para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima ressaltaram que limitar o aquecimento global a 2oC “exigirá uma transição radical... não um mero ajuste fino das tendências atuais”.
Nós podemos emitir apenas 300 bilhões de toneladas a mais (270 bilhões de toneladas métricas) de carbono na atmosfera e manter o aquecimento abaixo de 2oC. Com a atual taxa de emissões de mais de 10 bilhões de toneladas por ano, esgotaremos esse “orçamento de carbono” em apenas três décadas. De acordo com uma análise recente, ficar abaixo dos 2oC exigirá que um terço de todas as reservas comprovadas de petróleo, metade de todo o gás natural e 80% do carvão continuem sob a terra.
Isso é pedir bastante. Significa que teremos de começar a suprimir progressivamente o carvão agora e abandonar a maior parte ou toda a areia asfáltica canadense (adeus oleoduto Keystone XL). Também significa que não poderemos queimar cada vez mais gás natural como uma “ponte” para um futuro clima mais limpo dominado por fontes de energia renovável.
A marca de 2oC é com frequência equiparada com manter a concentração atmosférica de dióxido de carbono abaixo de 450 partes por milhão (ppm). O desafio se torna mais difícil à medida que usamos menos carvão. Quando queima, o carvão libera partículas de aerossóis de sulfato na atmosfera que refletem de volta para o espaço parte da energia recebida do Sol. Para o artigo “Uma Falsa Esperança”, publicado em 2014 pela Scientific American, eu calculei que, para compensar a redução a zero das emissões de enxofre até o fim do século, precisamos cumprir a meta de CO2 de cerca de 405 ppm – apenas levemente acima do nível atual.
Podemos fazer isso? O cientista do clima James E. Hansen fez uma convincente defesa de que podemos tirar 100 bilhões de toneladas de carbono do ar com um reflorestamento em massa – limitando o uso da terra o suficiente para permitir que as florestas recuperem a extensão que tinham antes do desmatamento humano. Isso, juntamente com a redução das emissões de carbono em vários pontos porcentuais por ano, o que é difícil, mas exequível, pode levar à meta de estabilização de 2oC.
A história está repleta de declarações precipitadas de inviabilidade que se provaram equivocadas. Como Joe Romm, do Centro para o Progresso Americano, respondeu a críticos de questões climáticas: “Felizmente esses especialistas não estavam por perto quando tivemos de fazer algo realmente difícil, como sofrer milhões de baixas e refazer toda nossa economia quase da noite para o dia para vencer a Segunda Guerra Mundial.” Um acordo inspirado na conferência climática COP-21, que acontece agora em Paris, pode dar início a um ambicioso, mas totalmente viável esforço.
O fator-chave é que há inovações tecnológicas e economias de escala que surgem apenas quando de fato se faz algo. O preço dos painéis solares, por exemplo, caiu mais de 50% no mundo nos últimos anos enquanto a China acelerava sua produção. Os que dizem “não, não podemos” se dedicam a profecias autorrealizáveis. Os EUA nunca foram um país de pessoas que se acham incapazes.
Mesmo com inovação e aprimoramentos, podemos em algum momento ter de empregar tecnologia de “captura direta do ar”, que retira o dióxido de carbono da atmosfera. Isso seria dispendioso, mas Klaus Lackner, professor de engenharia da Universidade do Estado do Arizona, acredita que o custo pode ser reduzido a US$ 30 por tonelada com o volume de produção.
O custo da ação é apenas metade do da inação. Essa conclusão não vem do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). Vem da ExxonMobil, que estimou o verdadeiro preço do carbono para a sociedade em US$ 60 por tonelada. Outros projetam um valor ainda mais alto. Temos condições de estabilizar o aquecimento planetário abaixo de dois graus Celsius? Não temos condições de não fazê-lo.
Michael E. Mann é professor emérito de Meteorologia da Universidade do Estado da Pensilvânia. Seu mais recente livro, com Lee R. Kump, é Dire Predictions: Understanding Climate Change (2ª edição, Pearson/DK Publishing, 2015).
Ilustração de Andrew J. Nilsen
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