Para chegar a essas e outras conclusões, cientistas têm buscado aproximações com participantes dessas facções. “Mas isso nem sempre é fácil, pois as condições em que essas pesquisas empíricas são realizadas muitas vezes expõem os estudiosos a situações de grande risco, além de questionamentos éticos”, diz o criminologista Lorenz Boellinger da Universidade de Bremen, Alemanha. Na última viagem da pesquisadora americana Anne Speckhard ao Líbano, há alguns anos, por exemplo, o Hezbollah ofereceu a ela uma entrevista com um dos principais membros da organização. A psicóloga da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica, teve rapidamente de decidir se saltava ou não para dentro de um carro para ser transportada a um local do encontro, não revelado pelos “anfitriões”.
“A coisa mais difícil é calcular o risco em que estamos nos colocando como pesquisadores”, diz Anne Speckhard. Ela se perguntava a todo momento se poderia confiar nos mediadores e ativistas.
A jornalista Nasra Hassan, funcionária da Organização das Nações Unidas, foi exposta a um perigo semelhante quando se encontrou com membros do Hamas e do Jihad islâmico em Gaza, nos anos 90. Os encontros aconteceram em cafés, na praia e em escuras salas dos fundos. Muitos dos entrevistados esconderam os rostos com máscaras e todos eles exigiram total anonimato. “Fui advertida de que meu interesse em tentar entender as missões suicidas era perigoso”, escreveu no New Yorker.
O estudo de terroristas ainda em liberdade, como os que fizeram Speckhard e Hassan, costuma ser o que comporta mais riscos. Um contato com essas pessoas pode ser extremamente perigoso e exige viagens dispendiosas e árduas. Além disso, os que buscam conversar com terroristas frequentemente chamam a atenção das forças armadas e de segurança, que podem vê-los como simpatizantes e passar a investigar e a interrogar esses pesquisadores.
Os benefícios científicos também são dúbios: os terroristas podem, por exemplo, não discutir as motivações e sentimentos abertamente e, em vez disso, veicular propaganda inútil. Mesmo quando os entrevistados são francos, é possível que as ideias deles nunca sejam publicadas. Ariel Merari, da Universidade de Tel Aviv, chegou a falar com combatentes presos do Hezbollah, do Amal e de outros grupos pró-sírios, e aplicou testes psicológicos padronizados. Seus dados, porém, foram considerados secretos e sigilosos pelo serviço de segurança israelense e, portanto, não são mais acessíveis.
Annette Schaefer é economista e jornalista especializada em divulgação científica.
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