Não é necessário que você seja cristão nem que acredite em Deus para saber que o inferno é aquele lugarzinho bacana destinado ao sofrimento perpétuo dos pecadores. Mas, por incrível que pareça, segundo Justin Westbow, do portal ListVerse, na própria Bíblia não existem muitas menções a esse local tenebroso — pelo menos nos moldes que conhecemos, ou seja, como sendo um lugar horrível onde as almas dos transgressores são condenadas a arder por toda a eternidade.
E, considerando a importância que a ideia de inferno tem para algumas religiões, parece estranho que vários trechos bíblicos pareçam inclusive negar que ele exista, não é mesmo? O fato é que Justin se deu ao trabalho de esmiuçar a Bíblia para encontrar informações que, segundo a sua interpretação, desacreditam a existência desse local funesto — Veja se você concorda:
1 – Cadê o fogo eterno?
Com respeito às menções, em vez de referências diretas ao inferno e ao fogo eterno, segundo Justin, na Bíblia temos justificativas como a que aparece emRomanos 6:7, por exemplo, que diz que “aquele que está morto está justificado do pecado” — deixando claro que após a morte, as transgressões dos pecadores são esquecidas.
Além disso, em 2 Tessalonicenses 1:9 e João 3:36, respectivamente, existem estas passagens sobre a punição dos condenados: “os quais, por castigo, padecerão eterna perdição, longe da face do Senhor e da glória do seu poder” e “aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” — o que significa que, em vez de ir para o inferno, a presença do Senhor é negada aos pecadores.
Segundo Justin, para não dizer que não há qualquer menção ao inferno nas escrituras, em Judas 1:7, temos que “assim como Sodoma e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, havendo-se entregue à fornicação como aqueles, e ido após outra carne, foram postas por exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno” —, mas o contexto deixa claro que o evangelho se refere às duas localidades que foram destruídas pela fúria de Deus.
Além dessas passagens, podemos encontrar citações breves no livro do Apocalipse — como a que aparece no capítulo 20, versículos 10-15, e fala de um lago de fogo e enxofre ocupado pelo Diabo e pelo falso profeta, no qual a morte e o inferno também foram lançados —, e um par de alusões em parábolas que provavelmente serviram de base para o desenvolvimento da ideia de inferno flamejante que temos hoje em dia. Mas não muito mais do que isso.
2 – Possíveis origens do inferno
Uma parábola bíblica que faz referência ao inferno é a do homem rico e Lázaro, o mendigo, que aparece no livro de Lucas. No capítulo 16 — entre os versículos 19 e 31 —, segundo o conto, depois que Lázaro morre, ele é levado junto a Abrão pelos anjos, enquanto o homem rico, que também falece na história, vai parar no tormento do inferno, de onde pede misericórdia.
Contudo, apesar de o inferno ser mencionado, em nenhum momento a parábola se refere a ele como sendo um local real. Na verdade, esses contos são claramente fictícios e servem para que a “moral da história” seja transmitida. Segundo Justin, outra menção direta às trevas ocorre durante um sermão de Jesus — descrito em Mateus 25 — sobre o Julgamento Final. E esse trecho é tido como a passagem bíblica que deu origem ao popular conceito de inferno.
Nele, Jesus diz: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”. Entretanto, vários estudiosos sugerem que a interpretação dessa passagem como sendo a descrição do inferno contradiz vários versos bíblicos, que atestam que o castigo dos pecadores ocorrerá após o Julgamento na forma de sua destruição imediata por meio de uma segunda morte. Portanto, eles não poderiam continuar sofrendo por toda a eternidade, não é?
3 – Velho Testamento
Se as citações no Novo Testamento são escassas, no Velho elas são mais raras ainda. No livro de Jó, mais precisamente no capítulo 3, entre os versículos 11 e 18, nas passagens “Por que não morri eu desde a madre? E em saindo do ventre, não expirei?”, “Porque já agora jazeria e repousaria; dormiria, e então haveria repouso para mim” e “Ali os maus cessam de perturbar; e ali repousam os cansados”, fica implícito que a morte não passa de uma cessão de tudo.
Além disso, de acordo com Justin, no próprio Gênesis, depois que Adão e Eva decidem desobedecer ao comando de Deus e comer o fruto da “árvore do conhecimento do bem e do mal”, seu castigo foi “No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás (3:19)”. Mas nenhum dos dois é condenado à agonia do inferno.
Aliás, ainda no Gênesis, nem mesmo depois de Caim matar Abel, Deus o manda para o fogo eterno. Em vez disso, no capítulo 4, versículo 15, o Senhor inclusive marca o assassino de forma a protegê-lo de qualquer um que tente matá-lo. Veja: “Portanto, qualquer que matar a Caim sete vezes será castigado. E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que o não ferisse qualquer que o achasse”.
4 – Amor e punição
De acordo com Justin, do ponto de vista cristão, que descreve o Senhor como sendo o Deus da verdade, imparcial e justo, a ideia de queimar eternamente nas chamas do inferno não faz muito sentido. No evangelho de João, mais precisamente no capítulo 4, versículo 8, existe a afirmação de que “Deus é amor”. Sendo assim, seria possível que um Pai amoroso condenasse seus filhos à tortura perpétua, mesmo que eles tenham cometido um grave pecado?
Em Jeremias 7:31, temos outra evidência que nega o castigo do inferno, quando Deus afirma “E edificaram os altos de Tofete, que está no Vale do Filho de Hinom, para queimarem no fogo a seus filhos e a suas filhas, o que nunca ordenei, nem me subiu ao coração”. Segundo a interpretação de Justin, a ideia de ter seus filhos agonizando no fogo nem mesmo passa pela cabeça do Senhor.
5 – Conceito emprestado?
Conforme explicou Justin, curiosamente, muito antes do surgimento do cristianismo, os antigos egípcios acreditavam na existência de uma caverna para a qual os transgressores eram enviados para serem punidos em um lago de fogo. Já os antigos mesopotâmios temiam a existência de um submundo que, embora não fosse um local de sofrimento tão severo como o fogo eterno, consistia em um lugar triste e escuro para o qual ninguém gostaria de ir.
No zoroastrismo, que surgiu na Pérsia antiga em meados do século 5 a.C., os pecadores eram condenados a passar a eternidade em uma espécie de poço malcheiroso repleto de demônios, fumaça e fogo, e seus espíritos eram torturados de acordo com suas más ações. Além disso, esse lugar funesto ficava no submundo e era controlado por uma figura cuja descrição lembra bastante a do Diabo — e tudo isso soa muito familiar, não é mesmo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário