segunda-feira, 16 de março de 2015

Está na rua a Copa de 2015


Os 2,2 milhões de brasileiros que protestaram contra o governo Dilma neste domingo, no desde já histórico 15 de março de 2015, bicaram uma bola política como o Brasil jamais viu

DIEGO ESCOSTEGUY

Multidão lotou a Avenida Paulista neste domingo (15) (Foto: EFE/SEBASTIÃO MOREIRA)
Os 2,2 milhões de brasileiros que protestaram contra o governo Dilma neste domingo, no desde já histórico 15 de março de 2015, bicaram nas ruas uma bola política como o Brasil jamais viu. Ela tem pouco de 2013, algo de 1992 e (quase) nada de 1964.
O maior protesto da história do país é todo 2015: apartidário mas politicamente engajado; digital mas com a alma nas ruas; desiludido mas, ainda assim, esparançoso com o que o Brasil pode – e deveria – ser. É ambivalente como somente nós sabemos ser. De verde-e-amarelo e cantando o hino nacional, os brasileiros, humilhados pelas goleadas reais e metafóricas, deram o pontapé na Copa de 2015. Se o governo Dilma não convencer esses brasileiros de que pode jogar no mesmo time, pode terminar o ano fora do Planalto.
Agora, a bola está com Dilma. Se frangar como em 2013, quando anunciou muito e fez pouco, com a ajuda dum Congresso que nem de gandula serve, Dilma vai prosseguir ouvindo vaias nas ruas e intrigas em Brasília.

Em junho de 2013, os brasileiros foram às ruas contra tudo. Neste domingo, foram às ruas contra os 12 anos de governo do PT, personalizados na figura de quem está lá agora. Como em 1992, o sentimento é de frustração, às vezes raiva, dirigido ao presidente. Como em 1992, esse sentimento mistura-se à pequena esperança de que, dos gritos nas ruas, saia um Brasil melhor. Em 1964, os brasileiros foram às ruas cantar em tintas nacionalistas uma ideia equivocada. Deram força ao golpe militar. Hoje, as cores são as mesmas, o nacionalismo é diferente e o Brasil é outro. Apenas o dogma de ideologias putrefatas enxerga semelhanças significativas entre 64 e 2015.
Mas também não estamos em 1992. Dilma não é Collor – embora este tenha se locupletado, segundo as provas da Operação Lava Jato, graças aos cargos que lhe foram entregues na Petrobras por Lula, e depois mantidos pela presidente. Não há qualquer acusação de que Dilma tenha enriquecido no poder – embora ela, como Lula, tenham responsabilidade política pelas petrorroubalheiras. Dilma não é uma demagoga populista como Collor, e as vozes a favor do impeachment não encontram eco.
Estamos em 2015, com regras de 2015. Dilma precisa convencer os brasileiros de que ela pode fazer parte da solução, e não do problema. Que podemos todos jogar no mesmo time. A parolagem de 2013, embelezada com pactos e frases de efeito boladas pelo marqueteiro João Santana, não cola mais. Dilma precisa admitir que errou, escolher o time certo e dizer que nem todos os gols dos últimos anos foram seus - e nem todos os frangos também.

O chavão do "combate à corrupção" está no time do Judiciário, do Ministério Público e do Congresso (com exceção da Polícia Federal). Os gols nesse campo são dos outros times. Não adianta. Assim como os frangos pela reforma política, seja lá quais propostas se queiram, estão no Congresso e no Judiciário. O governo não pode tudo, mas pode ser transparente.

Se prevalecer a visão de petistas como o doutor Miguel Rosseto, secretário-Geral da Presidência, Dilma nem precisa tentar. Na coletiva de ontem, com o Brasil ainda sob o impacto da catarse de domingo, Rosseto desdenhou das manifestações. Coisa de eleitores de Aécio Neves e de golpistas que querem a volta dos militares, disse. Ao que consta, poucos defendem o disparate inconstitucional de uma intervenção militar. Mas Rosseto foi eficiente em dividir ainda mais o time. Agiu como um Dunga.
Quando 1 milhão de pessoas aparecem na Avenida Paulista para vaiar uma presidente, ou se perde de 7 a 1, é hora de repensar o time e a forma de jogar. Basta jogar simples, sem firulas de marketing. Mas Dilma não consegue jogar simples desde que assumiu o primeiro mandato. Foi reeleita democraticamente, mesmo assim. Jogo jogado. O novo time nas ruas, porém, vai botar pressão. Ele bicou a bola sem saber aonde ela chegará. Dilma pode ter que buscá-la nas redes

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