quinta-feira, 12 de março de 2015

Feromônios humanos: mito ou realidade?

A ideia dos feromônios humanos é intuitivamente atraente, evocando a fantasia de sinais secretos que nos tornam irresistíveis para potenciais parceiros. Mas essa conexão de feromônios com o sexo pode ser a maneira errada de analisar a questão – porque, apesar de 45 anos de estudo e várias alegações ao longo desse tempo, ainda não há muitas evidências de que feromônios humanos existam.
Qualquer estudo de feromônios é problemático – até mesmo sua definição é controversa. A palavra vem do grego pherein (transferir) e hormōn (para excitar) e foi definido por Karlson e Luscher em 1959 como “substâncias que são segregadas por um indivíduo e recebidas por um segundo indivíduo da mesma espécie, na qual eles liberam uma reação específica, por exemplo um determinado comportamento ou processo de desenvolvimento”.
O problema é que enquanto que muitos pesquisadores concordam sobre as propriedades básicas dos feromônios, há um debate considerável sobre quais pistas olfativas representam feromônios. Por exemplo, muitas espécies usam odores para identificar características como espécie, gênero, relacionamento e status social. Muitos pesquisadores rotularam estes odores como feromônios; outros acham que, pela definição acima, eles são apenas cheiros.
Da mesma forma, nem todos os feromônios potenciais são secretados externamente – algumas espécies de salamandras transferem sinais químicos para outra salamandra injetando-os diretamente na corrente sanguínea. Alguns cientistas acreditam que a resposta a um feromônio deve proporcionar uma vantagem evolutiva tanto para o remetente quanto para o receptor do sinal, e fazê-lo de forma inconsciente.
Assim, a falta de consenso sobre a definição do que são feromônios levou ao uso excessivo deste termo. Em vez disso, muitos cientistas usam o termo semioquímicos para se referir a produtos químicos que transmitem alguma mensagem específica que pode influenciar a fisiologia e o comportamento de um destinatário.

Estudar cheiros é difícil

Diante desses problemas, por que, então, os pesquisadores são tão interessados em feromônios? Geralmente, o olfato é uma das formas mais importantes de comunicação no mundo animal, podendo ser transmitido na escuridão total e ao redor de obstáculos. Ao contrário de sinais que precisam ser vistos ou ouvidos, odores também permanecem no ambiente por longos períodos de tempo.
Mas estudar os feromônios humanos é problemático por uma série de razões alheias à definição. A pesquisa olfativa pode ser extremamente difícil de realizar: cheiros são invisíveis e difíceis de controlar, não existe um sistema padronizado real para rotulagem e avaliação de odores, e um grande número de variáveis potencialmente confusas precisa ser controlada. Além disso, o problema é que os seres humanos podem avaliar sinais em uma variedade de maneiras completamente diferentes – é raro que mostrem uma reação de estímulo-resposta simplista.

Quatro candidatos a feromônio

Quatro determinadas substâncias têm sido sido identificadas como possíveis feromônios humanos.
Nos anos 1970 e 1980, havia um foco nos derivados de testosterona androstenona e androstenol, possíveis feromônios em suínos e também encontrados nas axilas humanas. Uma série de estudos investigaram o efeito destas substâncias sobre o comportamento humano, com foco na interação social e na avaliação de parceiros sexuais. Apesar de um padrão geral para estas substâncias de aumentar o contato social entre homens e mulheres, os resultados são extremamente inconsistentes.
Na década de 1990, o foco mudou para os similares androstadienone e oestratraenol, substâncias derivadas de estrogênio produzidas em mulheres grávidas. Estes compostos foram estudados em vários experimentos que examinaram o órgão vomeronasal (OVN), uma estrutura tubular localizada na cavidade nasal que, em algumas espécies, está envolvida com o processamento de feromônios.
Vários estudos documentaram encontrar um OVN em mais de 90% dos participantes humanos, e relataram que estimular o OVN com “feromônios humanos putativos” artificialmente criados parecia estimular os destinatários. Isto sugere a existência de feromônios humanos, já que um OVN funcional iria possibilitar que os seres humanos processassem os feromônios.
No entanto, estudos mais recentes colocam em dúvida essa ideia, com nenhuma evidência de que os poucos OVNs identificados em humanos possuam células receptoras funcionais para detectar qualquer coisa – o OVN não está realmente conectado ao cérebro.
E esses supostos “feromônios humanos sintéticos”, fornecidos aos participantes, que pretendiam mostrar evidências de seu efeito sobre o OVN? Tem sido apontado que eles foram fornecidos pela Erox – uma empresa com um interesse comercial no registo de patentes e na venda destes produtos. É possível encontrar a Erox e dezenas de outras empresas que vendem produtos similares na internet hoje.
A pesquisa sobre estes quatro candidatos a feromônio sofre de todos os tipos de problemas. As substâncias são usadas em concentrações entre várias e milhões de vezes mais elevadas do que ocorre naturalmente em humanos. As experiências tendem a ser assediadas por questões metodológicas e estatísticas, levando a resultados contraditórios ou inconclusivos. As práticas de publicação tornam provável que apenas os resultados positivos sejam publicados, aumentando artificialmente a quantidade de provas supostamente favoráveis, e os resultados muitas vezes não têm sido independentemente replicáveis.
Em qualquer caso, mesmo que essas substâncias façam efeito na fisiologia e comportamento humano, não significa necessariamente que elas são os feromônios – há inúmeros odores de plantas ou de produtos químicos industriais que podem produzir uma reação comportamental em humanos.

O caminho a seguir

O pesquisador Tristram Wyatt, em seu artigo recente para a “Royal Society”, sugere que afastemos o foco sexual dos feromônios. Em vez disso, devemos nos concentrar não apenas na substância presente, mas ao conjunto de odores que os seres humanos são capazes de produzir em diversos lugares do corpo.
A sugestão de Wyatt é que as secreções da aréola dos seios lactantes das mães é um bom lugar para começar a procurar, já que o cheiro é muito importante para o comportamento da amamentação em animais. Qualquer bebê, apresentado com as secreções de qualquer mãe, vai responder com o comportamento de procura do mamilo, mesmo durante o sono.
“A busca pelos feromônios humanos tenta se aproximar do nosso misterioso sentido de cheiro e nos tem um apelo emocional”, explica Mark J. T. Sergeant, professor de psicologia da Nottingham Trent University, no Reino Unido. “Claro, há também fortes motivações comerciais para demonstrar a existência deles e os produtos que possam decorrer disso. Para que tenhamos progresso científico, é preciso abordar essas questões com muito mais rigor”. [Medical ScienceThe Conversation]

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