quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Efeito do treinamento concorrente e destreinamento sobre o biomarcador anti-inflamatório e níveis de condicionamento físico em crianças obesas



Saeid FazelifarI; Khosrow EbrahimII; Vaghinak SarkisianIII
IDepartamento de Educação Física, Ministério de Educação, Amol, Irã
IIDepartamento de Esportes e Fisiologia do Exercício, Faculdade de Educação Física e Ciência do Esporte, Universidade Shahid Beheshti, Tehran, Irã
IIIL. Orbeli Instituto de Fisiologia, NAS da Armênia, Yerevan, Armênia

 

RESUMO
OBJETIVO: Examinar o efeito de 12 semanas de (3 dias/sem) de treinamento concorrente e 4 semanas de destreinamento nas concentrações séricas de adiponectina e níveis de condicionamento físico em meninos obesos sem intervenção dietética.
MÉTODOS: vinte e quatro meninos saudáveis, 11-13 anos de idade com índice de massa corporal > 28 participaram voluntariamente do estudo. Estes foram divididos em dois grupos, experimental (n= 12) e controle (n=12).
RESULTADOS: Concentrações de adiponectina após 12 semanas tiveram declínio significativo em ambos os grupos em comparação com o nível basal (p < 0,05). VO2 pico, flexibilidade, força, endurance de abdominais e agilidade aumentaram significativamente no grupo experimental comparado com o grupo controle (p < 0.05). Foi evidenciado que após destreinamento de 4 semanas, a adiponectina sérica não se alterou significativamente no grupo experimental e que condicionamento físico benéfico foi gradualmente diminuído.
CONCLUSÃO: Nossos resultados sugerem que os efeitos benéficos do exercício físico no condicionamento são temporários. Uma vez que o processo de adaptação é reversível, parece que as concentrações de adiponectina foram inevitavelmente afetadas pelas alterações morfológicas e hormonais que ocorreram durante a puberdade em meninos.
Palavras-chave: treinamento de endurance, adiponectina, condicionamento físico, crianças obesas.



INTRODUÇÃO
A incidência de obesidade tem crescido em países desenvolvidos e em desenvolvimento e tal fato não pode ser atribuído somente a fatores genéticos uma vez que os genes humanos não se modificaram ultimamente1. Atividades físicas habituais entre humanos são características complexas que são determinadas pela interação de fatores biológicos e psicossociais assim como o ambiente físico2. Entre os jovens, a atividade física desempenha um papel importante no crescimento, maturação e desenvolvimento normais. Na verdade, atividade físicaé um conceito central no campo da ciência do exercício pediátrico2. Existe uma real preocupação de que excessos de peso corporal bem como ausência de atividade física regular ou falta de condicionamento físico estejam associados com riscos de diabetes tipo 2, hipertensão e outras doenças crônicas em indivíduos progressivamente mais jovens, incluindo crianças e adolescentes, e possa levar à morbidade recorrente, qualidade de vida ruim e morte prematura4. Exercício regular reduz o risco de doenças metabólicas crônicas e cardiorrespiratórias uma vez que o exercício causa efeitos anti-inflamatórios; sendo assim, a atividade física regular por longos períodos pode proteger o corpo contra o desenvolvimento de doenças crônicas4. Sabe-se que os adipócitos secretam um grupo diverso de proteínas chamadas adipocitocinas, as quais participam em diferentes funções biológicas incluindo imunidade, sensibilidade à insulina, apetite, angiogênese, metabolismo de lipídeos, função vascular e inflamação5. A adiponectina é considerada uma adipocitocina anti-inflamatória com a capacidade de reduzir vários marcadores inflamatórios6. Ela tem atraído bastante atenção ultimamente devido a seus efeitos anti-inflamatórios, antidiabéticos e antiaterogênicos. Níveis baixos séricos de adiponectina são relacionados com obesidade7. Os níveis de adiponectina aumentam com obesidade8. Comparativamente com outras adipocinas, a expressão de adiponectina aparece reduzida em tecidos adiposos de camundongos e humanos obesos9.
Os efeitos anti-inflamatórios do exercício regular podem ser mediados através da redução de massa de gordura visceral (com subsequente liberação decrescente de adipocinas) e indução de ambiente anti-inflamatório com cada série de exercício4. Diferentes métodos de treinamento são comumente utilizados para a melhora de condicionamento físico e saúde. Os métodos de treinamento incluem: treinamento aeróbico, treinamento resistido, treinamento intervalado, treinamento em circuito etc.
O treinamento concorrente tem sido estudado por novos métodos para reduzir taxas de obesidade. Este termo é utilizado para caracterizar o método pelo qual exercícios aeróbicos e de força são executados na mesma sessão de treinamento10. Treinamento de endurance (resistência), treinamento de força e a combinação de treinamento de endurance e força apresentam influência positiva no condicionamento físico e metabólico11. Primeiramente avaliamos as variáveis de um programa de treinamento físico e depois um programa de treinamento concorrente foi confeccionado. Tendo o segundo por base, definimos volume, intensidade, duração, monitoramento de intensidade, veracidade do exercício, dentre outros. A intensidade, duração e volume de treinamentos concorrentes foram gradualmente e aumentaram progressivamente dependendo das habilidades das crianças, as quais foram supervisionadas por um professor de educação física.
O efeito de um treinamento físico sobre as concentrações de adiponectina atualmente é controverso. Existem alguns relatos de que o exercício pode levar a aumento dos níveis de adiponectina12,13, enquanto outros não apresentaram nenhuma alteração nas concentrações de adiponectina14,15. Pouco se sabe sobre as alterações dos níveis de adiponectina durante a puberdade e menos informação ainda se tem sobre o papel do destreinamento após treinamento físico no condicionamento físico assim como dos níveis de adiponectina no plasma sanguíneo de crianças obesas. Não se sabe claramente o quanto os efeitos benéficos do treinamento físico após destreinamento permanecem. É importante ressaltar novas informações nessa área e alertar os profissionais para o problema.
Assim, o principal objetivo deste estudo foi examinar o efeito de 12 semanas (3 dias/semana) de treinamento concorrente seguido de quatro semanas de destreinamento nas concentrações de adiponectina e níveis de condicionamento físico em meninos obesos sem intervenção dietética.

METODOLOGIA
Amostra
Este estudo foi semiexperimental. Vinte e quatro meninos saudáveis (idade entre 11 e 13 anos) com índice de massa corporal (IMC) > 28 pertencentes a uma escola local (Taleb – Amoli) participaram voluntariamente do estudo. Altura e peso dos participantes foram medidos por procedimentos padrão (com roupa íntima, mas sem calçados) com uma Seca 220 (22089 Hamburgo, Alemanha). O IMC foi calculado como peso em quilos dividido pela altura em metros quadrados [kg/m2]16. As crianças não se exercitaram previamente ou tiveram qualquer participação anterior em programas de perda de peso (pelo menos durante os últimos três meses), nem tinham nenhuma história de doenças cardiovasculares, diabetes ou outros problemas médicos. Além disso, os sujeitos não fumavam e não faziam uso de medicamentos. Obesidade foi definida de acordo com a sugestão de Cole et al.17. Após a coleta de amostras sanguíneas, a composição corporal foi avaliada dentro da primeira semana anterior ao início do programa de treinamento físico de 12 semanas; as crianças obesas foram então dividas aleatoriamente em dois grupos, experimental (n = 12) e controle (n = 12). O grupo experimental recebeu um treinamento concorrente de 12 semanas (3 dias/semana) e o grupo controle não recebeu nenhum treinamento físico durante o período do estudo, mas foi testado antes e depois das 12 semanas (foi pedido aos sujeitos controle que não alterassem suas atividades normais diárias).
Ao fim do treinamento concorrente de 12 semanas, foi solicitado que o grupo experimental retornasse a seu estilo de vida diário pelas próximas quatro semanas sem nenhum treinamento (fase de destreinamento). Ao fim do destreinamento, os meninos foram convidados a participar dos testes mencionados anteriormente.
Foi solicitado que as crianças obesas evitassem qualquer exercício além do necessário para o estudo. Antes do treinamento, os pais dos alunos obesos foram convidados a coletar todas as informações sobre o estudo. Tanto quanto as crianças, seus pais foram totalmente informados sobre a natureza e objetivo do estudo e, após isso, foi obtido o consentimento informado escrito. Os procedimentos seguidos estavam de acordo com os padrões éticos do comitê responsável sobre experimentação com seres humanos e com a Declaração de Helsinki de 1975, como revisada em 1983, e o estudo foi aprovado pelo Comitê Ético em Pesquisa (FWA00017681).

COLETA DE DADOS
Antropometria
As composições corporais foram analisadas pelo Analisador de Composição Corporal InBody 220 para todas as crianças obesas em condições iguais. Análise de composição corporal é uma das informações mais importantes do teste InBody. InBody 220 mede diretamente bioimpedância de cada parte do corpo permitindo que a corrente e voltagem atravessem o corpo através de oito eletrodos (precisão aprovada com o valor de coeficiente de correlação próximo a 98%).
Teste sanguíneo e medidas de condicionamento físico
O teste sanguíneo foi executado pela manhã após as crianças obesas terem feito jejum de 12-14 horas. Amostras de sangue de jejum foram coletadas em três estágios (basal, após 12 semanas de treinamento concorrente e quatro semanas de destreinamento) de cada amostra para medida da adiponectina. Os sujeitos não executaram nenhum exercício por 48 horas antes da coleta de sangue. O plasma foi separado e armazenado a −80ºC para posterior análise. Níveis de adiponectina foram analisados pelo método ELISA. Condicionamento cardiorrespiratório foi avaliado como o pico de consumo de oxigênio (VOpico) medido pelo teste de Coureton18. A flexibilidade da coluna lombar e músculos isquiotibiais foi medida pelo teste de sentar e alcançar19. O teste de abdominais mede a força muscular abdominal, endurance e flexores de quadril20. O teste de agilidade de Illinois foi utilizado para avaliar agilidade de corrida21.
Elaboração do treinamento concorrente
As variáveis do programa de treinamento físico foram avaliadas e, com base nelas, o programa de treinamento concorrente foi elaborado.
Intensidade de treinamento: A intensidade de treinamento é uma das variáveis mais importantes na elaboração de programas de treinamento resistido22. A intensidade do treinamento resistido foi baseada no exercício máximo repetido anterior. A intensidade do treinamento de endurance foi baseada na frequência cardíaca máxima (FCmax) estimada por: 220 - idade. Estes treinamentos começaram com 50 a 60% de FCmax nas primeiras duas semanas do programa para garantir que os participantes desenvolvessem um senso de sucesso e autoestima positivo ao início do programa23. Posteriormente, a intensidade do treinamento de endurance foi aumentada em 5% a cada duas semanas e, como resultado, na 12ª semana a frequência cardíaca (FC) aumentou até 80-85% da FCmax. Durante as sessões de treinamento de endurance, a FC foi continuamente monitorada com um monitor de FC (Polar, RS100th cardio running). A zona de FC alvo foi definida por um professor de educação física para cada sessão. Além disso, com a ajuda de um alarme de zona-alvo, os sujeitos puderam ter certeza de que o exercício estava com a intensidade correta. Quando a zona-alvo dos limites de frequência cardíaca era ativada, a unidade de pulso soava um alarme quando havia limites acima ou abaixo de seus limites. Os sujeitos receberam instruções sobre o uso dos relógios Polar durante a sessão de treinamento físico.
Volume de treinamento: O volume de treinamento se refere à quantidade total de trabalho que é executado em uma sessão de treinamento24. O volume de treinamento resistido foi calculado pelo número de séries x repetição x peso dos sujeitos. Para as duas primeiras semanas, o tempo de corrida foi de 10 min e então foi aumentado em dois minutos semanalmente. Assim, na 12ª semana o tempo de corrida alcançou 30 min. Nas primeiras quatro semanas, o tempo para subir e descer as escadas foi de seis min (2 séries x 3 min =6 min); para as segundas quatro semanas 1 min para cada série (2 séries x 4 min = 8 min) e para as últimas quatro semanas uma série a mais (3 séries x 4 min = 12 min) foi adicionada.
Intervalos entre séries e estações: Intervalos foram de 1 min e 3 min para as séries e para as estações, respectivamente, assim como de 5 min entre treinamento resistido e de endurance. Intervalos de recuperação foram de 3 min para a estação de endurance e séries de subir degrau. A recuperação ativa ocorreu entre os treinamentos.
Velocidade de repetição: Os iniciantes tiveram que aprender a executar cada exercício adequadamente e levemente. Recomenda-se que crianças obesas não treinadas executem exercício de maneira controlada e a uma velocidade moderada24.
Frequência de treinamento: A frequência de treinamento concorrente foi de 3 dias/semana em dias não consecutivos, para permitir recuperação adequada entre as sessões.
Treinamentos concorrentes foram executados sob a supervisão de um professor de educação física. Cada sessão consistia de uma sessão de aquecimento de 7 min com ênfase em flexibilidade bem como um período de 7 min de relaxamento (tabela 1).


ANÁLISE ESTATÍSTICA
ANOVA e posterior análise post-hoc de Tukey foi utilizada para avaliar o efeito do treinamento concorrente entre basal, após 12 semanas de treinamento concorrente (12 sem) e após quatro semanas de destreinamento no grupo experimental. Para o grupo controle, um teste t pareado simples foi utilizado para comparar valores obtidos no valor basal e 12 sem. Um teste t independente foi utilizado para analisar diferenças entre médias de variáveis para os grupos experimental e controle antes e após 12 semanas. O nível de significância foi estabelecido a p < 0,05. Todas as estatísticas utilizaram o programa estatístico SPSS versão 16/00. Todos os dados foram expressos como médias ± DP.

RESULTADOS
Amostras sanguíneas não puderam ser obtidas no grupo controle após destreinamento porque esses sujeitos foram excluídos da análise. Não existiram diferenças basais entre os grupos experimental e controle para nenhuma das variáveis descritivas medidas (tabela 2).


Teste t de amostra independente (tabela 2) revelou que após 12 semanas de treinamento concorrente, condicionamento cardiorrespiratório, flexibilidade de músculos da coluna lombar e isquiotibiais, força eendurance de abdominais e flexores de quadril e agilidade de corrida aumentaram significativamente no grupo experimental em comparação com o grupo controle (p< 0,05). O mesmo teste evidenciou que após 12 semanas de treinamentos concorrentes não foram encontradas diferenças para os níveis de adiponectina no grupo experimental em comparação com o grupo controle (p< 0,05). O teste t pareado mostrou que em ambos os grupos experimental e controle a concentração de
adiponectina diminuiu significativamente ao longo das 12 semanas (p< 0,05). O mesmo teste evidenciou que no grupo controle capacidade cardiorrespiratória, flexibilidade de músculos da coluna lombar e isquiotibiais, força eendurance dos abdominais e flexores de quadril e agilidade de corrida não apresentaram alteração ao longo de 12 semanas (p< 0,05). Teste ANOVA para três diferentes períodos (antes do treinamento, 12 semanas de treinamento e quatro semanas de destreinamento) revelaram diferenças significativas entre adiponectina, flexibilidade, abdominais, agilidade e VO2 pico no grupo experimental (p< 0,05). Contudo, a análise entre os dados para pré e pós-treinamento bem como os dados para quatro semanas de destreinamento evidenciaram que a adiponectina apresentou-se significativamente diminuída no grupo experimental após 12 semanas de treinamento comparado com o estágio pré-treinamento (p< 0,05). Pudemos observar que ao fim da 16ª semana (seguindo quatro semanas de destreinamento) os níveis de adiponectina não foram significativamente alterados no grupo de treinamento (p< 0,05). O mesmo teste revelou que o condicionamento cardiorrespiratório, flexibilidade de músculos da coluna lombar e isquiotibiais, força e endurance dos abdominais e flexores de quadril e agilidade de corrida aumentaram significativamente no grupo experimental após 12 semanas de treinamentos concorrentes (p< 0,05). Após quatro semanas de destreinamento, agilidade de corrida e VO2picodiminuíram significativamente no grupo experimental e permaneceram no mesmo nível até o fim das avaliações (p< 0,05).

DISCUSSÃO
O achado mais importante no presente estudo foi que o treinamento concorrente de 12 semanas (3 d/sem) melhorou condicionamento físico, enquanto não afetou os níveis de adiponectina circulante no grupo experimental. Após quatro semanas de destreinamento, adiponectina sérica não se alterou significativamente no grupo de treinamento, mas o condicionamento físico benéfico foi gradualmente diminuído. Infância e adolescência são períodos cruciais da vida, já que modificações dramáticas fisiológicas e psicológicas acontecem nesses anos25. Vários estudos foram feitos com crianças obesas26-29; esses estudos revelam que programas de treinamento físico melhoram o condicionamento físico e a condição de saúde.
Estes resultados sugerem que, em crianças obesas, um programa de treinamento concorrente de 12 semanas melhora o condicionamento cardiorrespiratório – 8% (VO2pico), flexibilidade de músculos de coluna lombar e isquiotibiais – 45%, força e endurance de abdominais e flexores de quadril – 76% e agilidade de corrida – 7%. Sem dúvida, participação regular em programas de treinamento físico é benéfica para níveis de condicionamento, saúde em crianças e adolescentes, mas um desafio maior ainda não é claro: por quanto tempo os efeitos benéficos do treinamento físico continuam após destreinamento. O presente estudo é pioneiro em avaliar o efeito de quatro semanas de destreinamento após 12 semanas de treinamento concorrente nos níveis de condicionamento físico e alterações nas concentrações de adiponectina em crianças obesas.
Neste estudo, ao fim de um treinamento concorrente de 12 semanas, foi pedido que os participantes do grupo experimental retornassem para seu estilo de vida anterior pelas próximas quatro semanas sem qualquer treinamento (fase de destreinamento). De acordo com os resultados, o condicionamento cardiorrespiratório (VO2pico) (figura 1), flexibilidade de músculos de coluna lombar e isquiotibiais, força e endurance de abdominais e flexores de quadril e agilidade de corrida ao fim da 16ª semana (seguindo de quatro semanas de destreinamento) reverteram e diminuíram.


Um achado interessante do presente estudo foi que após o treinamento concorrente de 12 semanas, a adaptação de força e endurance dos abdominais e flexores de quadril e flexibilidade de músculos de coluna lombar e isquiotibiais rapidamente aumentou, mas após quatro semanas de destreinamento essas variáveis gradualmente se reverteram. Comparativamente, a adaptação do condicionamento cardiorrespiratório e agilidade de corrida rapidamente se reverteram após quatro semanas de destreinamento.
Nossos resultados demonstraram que os treinamentos resistido e de endurance não apresentaram efeitos negativos para melhorar força e endurance nem exerceram quaisquer efeitos negativos na flexibilidade e agilidade em crianças obesas.
Revisões recentes sobre efeitos anti-inflamatórios do exercício se focaram em três possíveis mecanismos: a redução de massa de gordura visceral, produção aumentada, liberação de citocinas anti-inflamatórias derivadas de músculos esqueléticos contráteis (chamados de miocinas) e expressão reduzida de receptores Toll-like(TLRs) nos monócitos e macrófagos4. Exercício agudo de curto prazo (< 60 min), exercício de longo prazo (> 60 min) e adiponectina – Ferguson et al.14 investigaram os efeitos agudos do exercício de pedalar na adiponectina em homens e mulheres saudáveis. O sujeito pedalou a 65% de VO2max por 60 min. A adiponectina não se alterou com o exercício nem em homens nem em mulheres. Em outro estudo, 10 sujeitos completaram exercício por duas horas a 50% de VO2max em condições de jejum e não jejum e amostras de plasma e biópsias de músculo foram obtidas durante o protocolo30. Os investigadores não relataram alterações nos níveis de adiponectina plasmáticos em resposta ao teste nem em expressão de receptores 1 e 2 de adiponectina do músculo, sendo diferente entre experimentos.
Exercício de curto prazo (< 60 min) – Nove sujeitos com sobrepeso executaram exercício submáximo por 45 min (65% de VO2max). A concentração de adiponectina foi medida antes do exercício e imediatamente 24 e 48 h após o exercício. Os autores mencionaram que não houve alterações significativas na adiponectina com o tempo. Os resultados deste estudo indicaram que um exercício aeróbico submáximo não resultou em alterações significativas em adiponectina até 48 h pós-exercício em sujeitos com sobrepeso31.
Exercício de longo prazo (> 60 min) – O efeito do exercício de pedalar (60 min a 65% de VO2max) na resposta de adiponectina em homens e mulheres saudáveis foi estudado mostrando que pós-exercício em homens ou mulheres não mostrou alterações em concentrações de adiponectina ou leptina. Foi concluído que exercício agudo não afetou as concentrações de adiponectina nos dois sexos31. Em geral, esses estudos revelaram que exercícios agudos, de curto e de longo prazo, não afetaram as concentrações de adiponectina. Em contraste, Saunders et al.13 reportaram que tanto exercício aeróbico agudo e de curto prazo (~1 semana) resultaram em aumento significativo nos níveis plasmáticos de adiponectina em homens obesos abdominalmente inativos, o que é independente da intensidade de exercício.
Treinamento de curto prazo (< 12 semanas) e adiponectina – Kelly et al.5 relataram que treinamento físico de oito semanas (4 d/sem) consistindo de exercício de pedalar estático em crianças com sobrepeso não melhorou o perfil de adiponectina na ausência de perda de peso. O efeito de 10 semanas de treinamento aeróbico nas concentrações de adiponectina foi investigado em mulheres jovens e de meia-idade. Após o programa de treinamento, as concentrações de séricas de adiponectina foram aumentadas em ambos os grupos31.
Treinamento de longo prazo (> 12 semanas) – Moghadasi et al.12 investigaram a adiponectina mRNA e concentrações plasmáticas em homens de mais idade com sobrepeso e obesos após treinamento físico de 12 semanas de alta intensidade (4 d/sem) com 75-80% do consumo máximo de oxigênio individual por 45 min e após uma semana de destreinamento. Os resultados mostraram que as concentrações plasmáticas de adiponectina aumentaram após o treinamento no grupo experimental comparado com o grupo controle (p< 0,05). Após uma semana de destreinamento, as variáveis não apresentaram alterações significativas no grupo de treinamento. Nassisa et al.32 mostraram que a concentração de adiponectina não se alterou após o treinamento de exercício aeróbico após 12 semanas (3 d/sem) em meninas com sobrepeso e obesas (idade – 13 anos). Contrário a isso, Donoso et al.33 relataram aumento nos níveis de adiponectina circulante durante toda a puberdade em bailarinas. Em adolescentes com sobrepeso e obesos seguindo 12 semanas de um programa de treinamento aeróbico, adiponectina sérica, interleukin (IL)-6 e proteína C reativa (PCR) permaneceram inalterados9. Em um outro estudo, 12 sujeitos masculinos obesos foram investigados antes e após três meses de treinamento dinâmico de força. Após o treinamento, peso corporal total, adiponectina, IL-6 e TNF-αpermaneceram inalterados34. Os últimos estudos mostram resultados misturados sobre efeitos do treinamento físico nas concentrações de adiponectina. Infelizmente, os mecanismos pertencentes a esses dados controversos ainda não estão esclarecidos. Acredita-se que as diferenças entre os resultados podem ser devidas à aplicação de diferentes metodologias, resultados de dados e várias intensidades, volume, duração dos treinamentos ou podem ser afetadas por alterações morfológicas e hormonais que ocorrem após diferentes tipos de programas de treinamento.
Os resultados de nosso estudo (figura 2) indicam que, após 12 semanas, os níveis de adiponectina diminuíram significativamente em ambos os grupos, experimental (29%) e controle (25%). Além disso, após quatro semanas de destreinamento, o processo de redução de adiponectina ainda continuou. Uma queda transitória do nível de adiponectina foi encontrada em meninos com idade entre 10 e 12 ou mais jovens, mas não em meninas. A queda púbere dos níveis de adiponectina em meninos coincide com um aumento marcante na concentração de testosterona. Uma correlação negativa entre níveis de testosterona e concentrações de adiponectina foi também verificada em meninos. Alguns autores reportaram uma queda transitória do nível de adiponectina durante a puberdade masculina, o qual se relaciona com aumento no nível de testosterona em meninos35. Um declínio transitório associado à puberdade dos níveis de adiponectina em meninos a qual é associada ao aumento nos níveis de testosterona foi relatado em crianças de Taiwan com idade entre 6-18 anos8. Em nosso estudo, declínio de adiponectina em meninos durante a puberdade pode ser devido a aumento nos níveis de testosterona, mesmo com exercício regular. Destacando a importância da cuidadosa atenção a fatores biológicos (e.g. hereditariedade, sexo, adiposidade, puberdade etc), parece que os fatores de puberdade devem ser considerados para a avaliação do impacto do treinamento físico em meninos obesos.


CONCLUSÃO
Um programa de treinamento concorrente e seu gradual ganho sob a supervisão de um professor de educação física em crianças obesas pode levar a benefícios funcionais e de saúde. Aparentemente, os efeitos positivos do treinamento físico são temporários, mas o processo de adaptação é reversível. As adaptações de força e flexibilidade muscular reduziram após quatro semanas de destreinamento em uma taxa muito mais lenta do que condicionamento cardiorrespiratório (VO2pico) e agilidade em crianças obesas. Nossos resultados demonstraram que treinamentos resistidos e de endurance não apresentam efeitos negativos para a melhora de força e endurance e não exercem efeito negativo na flexibilidade e agilidade em crianças obesas. O treinamento de endurance e resistido são duas modalidades comuns de treinamento físico. Os resultados mostram que o treinamento concorrente, que é a combinação entre treinamento de endurance e resistido, pode resultar em adaptações específicas para ambos os tipos de exercício. Parece que as concentrações de adiponectina foram inevitavelmente afetadas por alterações morfológicas e hormonais que ocorrem durante a puberdade em meninos, dadas as potenciais conexões entre alterações de neuroendócrino e composição corporal durante a puberdade e o declínio em atividade física durante esse período. Recomendamos que investigações multidisciplinares futuras em crianças sejam encorajadas para fornecer um melhor entendimento sobre a base biológica e fisiológica da atividade física durante a puberdade. Devemos mencionar a necessidade de futuras pesquisas para claramente demonstrar os mecanismos diretos e indiretos moleculares pelos quais exercício físico influencia o perfil biológico e condição física em crianças obesas. Não existe dúvida de que exercício regular é benéfico para a saúde, mas é um grande desafio encorajar a população em geral para que se engaje em treinamento físico. É imperativo que mais atenção seja dada para a promoção de condicionamento físico durante a infância, adolescência e vida adulta.
Stepanyan pela colaboração. Gostaríamos também de agradecer às crianças voluntárias que participaram deste estudo e pela cooperação de seus pais.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Ebrahim Nemati, Mohammad Varamini e Harutyun

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 Correspondência:
Departamento de Educação Física, Ministério da Educação
Amol, Irã
sorena1740@yahoo.com

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