domingo, 29 de junho de 2014

Protocolo eletrônico de fisioterapia respiratória em pacientes com escoliose idiopática do adolescente




Danila Vieira Baldini CanoI; Osvaldo Malafaia, ECBC-PRII; Vera Lúcia dos Santos AlvesIII; Osmar AvanziIV; José Simão de Paula PintoV
IPós-Graduanda do Curso de Mestrado de Ciências da Saúde da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo- SP
IIProfessor Titular de Cirurgia da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR-BR
IIIProfessora Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
IVProfessor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo- SP-BR
VProfessor Adjunto do Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Ciências e Gestão da Informação da Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil



RESUMO
OBJETIVO: Criar uma base de dados clínicos da função respiratória em pacientes com escoliose idiopática do adolescente; informatizar e armazenar estes dados clínicos através da utilização de um software; incorporar este protocolo eletrônico ao SINPE© (Sistema Integrado de Protocolos Eletrônicos) e analisar um projeto piloto com interpretação dos resultados. 
MÉTODOS: 
A partir da revisão da literatura foi criado o banco de dados informatizado de dados clínicos dos desvios posturais (protocolo mestre). Mediante a realização do protocolo mestre foi criado o protocolo específico da função respiratória de pacientes com escoliose idiopática do adolescente e realizado um projeto piloto com a coleta e análise de dados de dez pacientes.
RESULTADOS: Foi possível criar o protocolo mestre dos desvios posturais e o protocolo específico da função respiratória de pacientes com escoliose idiopática do adolescente. Os dados coletados no projeto piloto foram processados pelo SINPE Analisador© gerando gráficos e estatísticas das informações coletadas.
CONCLUSÃO: A criação da base de dados clínicos de escoliose idiopática do adolescente foi possível. A informatização e o armazenamento de dados clínicos utilizando o software foram viáveis. O protocolo eletrônico de escoliose idiopática do adolescente pôde ser incorporado ao SINPE© e sua utilização no projeto piloto foi realizada com sucesso.
Descritores: Protocolos Clínicos. Escoliose. Modalidades de fisioterapia. Adolescente.



INTRODUÇÃO
 função pulmonar pode ser prejudicada nos pacientes com escoliose grave. As disfunções encontradas na mecânica pulmonar, nos volumes e nas trocas gasosas estão relacionadas com a gravidade da curvatura da coluna1-2. A capacidade pulmonar total nos pacientes com escoliose idiopática do adolescente é muito pequena com diminuições características nos componentes da capacidade vital, capacidade inspiratória  e volume de reserva expiratória. Esses volumes frequentemente são diminuídos em um grau maior que o volume residual, que pode ser normal ou apenas moderadamente diminuído 3-5.
Sabendo da importância da fisioterapia respiratória para pacientes com escoliose idiopática do adolescente que apresentam curvaturas torácicas graves e doença pulmonar restritiva e de que são poucos os trabalhos sistematizados sobre este tema, percebemos a relevância de criar um protocolo eletrônico que padronize e acompanhe a atuação fisioterapêutica.
A criação de um banco de dados clínicos informatizado com a capacidade de coletar informações dos pacientes de forma prospectiva e com possibilidade de resgate e cruzamento dessas informações viabiliza a produção de estudos científicos de qualidade, com credibilidade e menor tempo.
Nas palavras de Shortliffe EH, Perrault E.6,..."A informática médica depende da informação clínica e de como ela é coletada, armazenada e interpretada. Para isso, há a necessidade de formação de instrumentos capazes de manipular as informações geradas a partir de observações clínicas. As vantagens de um sistema de registro médico sem papel são facilmente percebidas, uma vez que toda informação disponível é digitalizada e passa ser de fácil manipulação". Tendo isto em mente, procurou-se padronizar o processo de coleta e análise de dados de pacientes com escoliose idiopática do adolescente auxiliando os profissionais da área no tratamento e na realização de estudos científicos de forma prospectiva e também multicêntricas.
Os objetivos da realização do protocolo eletrônico de coleta de dados clínicos de pacientes com escoliose idiopática do adolescente foram: criar uma base de dados clínicos da fisioterapia respiratória em pacientes com escoliose idiopática do adolescente; informatizar e armazenar estes dados clínicos através da utilização de um programa de computador chamado de protocolo eletrônico; incorporar este protocolo eletrônico ao SINPE© (Sistema Integrado de Protocolos Eletrônicos) e analisar um projeto piloto com interpretação dos resultados.

MÉTODOS
O "Protocolo Eletrônico de Fisioterapia Respiratória na Escoliose Idiopática do Adolescente" é um estudo descritivo e a metodologia aplicada em seu desenvolvimento está dividida em cinco fases principais, que foram: criação da base teórica de dados clínicos de deformidades da coluna vertebral; informatização da base teórica de dados clínicos; implantação da base teórica de dados clínicos no protocolo mestre e confecção do protocolo específico; incorporação do protocolo eletrônico de fisioterapia respiratória na escoliose idiopática do adolescente no SINPE© e interpretação das informações com demonstração dos resultados em um projeto piloto.
Foi constituída e formatada uma base de dados teóricos sobre as deformidades vertebrais, por meio da revisão bibliográfica e coleta de dados na literatura específica para que fosse elaborado o protocolo eletrônico.  Nessa etapa foi realizada a leitura sistemática de livros-texto e revisão dos artigos publicados em revistas indexadas referente ao tema. Foi criada então uma base de dados clínicos nas deformidades vertebrais, destacando a escoliose, seus tipos, a função respiratória, avaliação, exame físico e tratamentos existentes, cirúrgicos e não cirúrgicos.
O SINPE© foi desenvolvido pelo Prof. Dr. Osvaldo Malafaia e cedido ao Programa de Pós-Graduação em Clínica Cirúrgica da Universidade Federal do Paraná para criação de linha de pesquisa em área de concentração de Informática Médica e utiliza o sistema de gerenciamento de dados Access® da Microsoft®, que permite o desenvolvimento de aplicações que envolvem tanto a modelagem e estrutura de dados como também a interface utilizada pelos usuários. A linguagem de programação aplicada no SINPE© é a C# (C-Sharp), empregando a tecnologia .net da Microsoft®.
O sistema utilizado para carregar a base teórica de dados clínicos no "Protocolo Mestre" é baseado em conjunto de dados, dispostos de forma hierarquizada, em itens e subitens distribuídos em diferentes gerações, criados por meio de dois comandos: o comando "Adicionar Irmão" e o comando "Adicionar Filho".
Os protocolos específicos são criados através do comando "Selecione um protocolo específico". Nesse protocolo criamos o protocolo específico de Função Respiratória em Pacientes com Escoliose Idiopática do Adolescente.

RESULTADOS
figura 1 exibe os dados do protocolo mestre, data de criação, última atualização, área da saúde a que pertence e total de itens deste protocolo mestre. Estudamos a área da ortopedia, especificamente, a coluna vertebral e suas deformidades, nos concentrando na escoliose idiopática do adolescente.


Os subitens da escoliose idiopática do adolescente foram divididos em sete grupos principais: anamnese, exame físico, avaliação neurológica, avaliação radiográfica, avaliação da função pulmonar, exames complementares e tratamento (Figura 2).


Para iniciar a coleta de dados foi necessário elaborar o protocolo específico da função respiratória em pacientes com escoliose idiopática do adolescente. Os itens que compõem o protocolo específico são provenientes do protocolo mestre (Figura 3).


Após a realização da coleta de dados de 10 pacientes (projeto piloto) as informações foram processadas pelo programa SINPE Analisador© que gerou automaticamente a ficha de análise (Figura 4), estatísticas e gráficos.


DISCUSSÃO
Os benefícios do uso da informática na área médica são numerosos7 e descritos na literatura por questões ligadas ao melhor acesso à informação, maior segurança, troca eletrônica de dados entre as instituições, facilidade para realização de pesquisas coletivas, melhor qualidade na assistência à saúde do paciente otimizando o tempo de atendimento, melhor gerenciamento dos recursos, melhoria de processos administrativos e financeiros e redução dos espaços físicos necessários para arquivamento de prontuários.
Muito embora os prontuários eletrônicos já estejam sendo utilizados em hospitais e clínicas e os estudos retrospectivos baseados nesses prontuários sejam mais fáceis e confiáveis, os prontuários eletrônicos carecem de informações específicas sobre o objeto de estudo. O levantamento prévio dos dados relevantes relacionados à determinada doença ou terapia, e a possibilidade de coleta de todos esses dados para posterior análise, faz do SINPE© uma ferramenta bastante completa no desenvolvimento de estudos clínicos.
Para observar a funcionalidade deste protocolo foi realizado um projeto piloto com dez pacientes. Apesar de o protocolo específico conter 306 itens, a coleta de dados mostrou-se objetiva, segura e rápida, corroborando com estudos realizados por Vreeman, onde o tempo de coleta de dados realizados através de uma base eletrônica reduziu em 30% em relação à coleta em papel. Kaur, também demonstrou que a coleta de dados informatizados realizados por um fisioterapeuta foi concluída de forma significantemente mais rápida do que a anterior realizada com papel8,9.
Um dos principais desafios dos profissionais da área é fazer com que os protocolos eletrônicos sejam utilizados na rotina do dia a dia, tornando-se  importante fonte de dados clínicos. Entretanto, uma das barreiras encontradas é a própria mudança de comportamento profissional. Kaur et al. 2004, observaram em seus estudos a dificuldade em mudar o comportamento de fisioterapeutas que estavam acostumados a documentar seus atendimentos em textos desestruturados9. Sua proposta foi apoiar a análise de dados eletrônicos em sistemas estruturados a partir da escolha de menus, semelhantes aos utilizados pelo SINPE©.
Protocolos eletrônicos oferecem muitas facilidades e prometem melhorar a gestão de informação e a qualidade de pesquisas. Espera-se que o protocolo eletrônico de escoliose idiopática do adolescente possa auxiliar na projeção de tratamento e de prognósticos. Com isto, obter-se-ia intervenções mais eficazes frente aos desfechos clínicos, reforçando a prática baseada em evidências científicas no cotidiano profissional do fisioterapeuta.
Em conclusão: 1. a criação da base de dados clínicos de escoliose idiopática do adolescente foi possível; 2) a informatização e o armazenamento destes dados clínicos utilizando um programa de computador especialmente criado foram viáveis, tornando-o disponível para fisioterapeutas, médicos e estudantes da área da saúde; 3. o protocolo eletrônico de escoliose idiopática do adolescente pôde ser incorporado ao SINPE© (Sistema Integrado de Protocolos Eletrônicos); 4. a utilização do SINPE© no projeto piloto foi realizada com sucesso na coleta e análise de dados.

REFERÊNCIAS
1. Nash CL Jr, Moe JH. A study of vertebral rotation. J Bone Joint Surg Am 1969; 51(2):223-9.         [ Links ]
2. Kennedy JD, Robertson FC, Hudson I, Phelan PD. Effect of bracing on respiratory mechanics in mild idiopathic scoliosis. Thorax 1989; 44(7):548-53.         [ Links ]
3. Kafer ER. Idiopathic Scoliosis. Gas exchange and the age dependence of arterial blood gases. J Clin Invest 1976; 58(4):825-33.         [ Links ]
4. Kafer ER. Respiratory and cardiovascular functions in scoliosis and the principles of anesthetic management. Anesthesiology 1980; 52(4):339-51.         [ Links ]
5. Gazioglu K, Goldstein LA, Femi-Pearse D, Yu PN. Pulmonary function in idiopathic scoliosis. Comparative evaluation before and after orthopaedic correction J Bone Joint Surg Am 1968; 50:1391-9.         [ Links ]
6. Shortliffe EH, Perreault LE, Fagan LM, Wiederhold G, McDonald CJ, Barnett GO. Medical-record systems. In: Shortliffe EH, Perreault LE, Wiederhold G, Fagan LM, editors. Medical Informatics: computer applications in a health care. Boston: Addision Wesley; 1990. p. 466-502.         [ Links ]
7. Horgarth M. Informática Médica: um pouco de história. Inform med [Internet]. 1998 Set/Out; 1(5). Disponível em http://www.informaticamedica.org.br/informaticamedica/n0105/hogarth.htm.         [ Links ]
8. Vreeman DJ, Taggard SL, Rhine MD, Worrell TW. Evidence for eletronic health record systems in physical therapy. Phys Ther 2006; 86(3):434-46.         [ Links ]
9. Kaur K, Forducey PG, Glueckauf RL. Prototype database for telerehabilitation. Telemed J E Health 2004; 10(2):213-22.         [ Links ]


 Endereço para correspondência:
Danila Vieira Baldini Cano
E-mail: dv.baldini@uol.com.br

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