domingo, 8 de junho de 2014

Esquistossomose mansônica em vesícula seminal



Schistosomiasis mansoni in the seminal vesicle


Eduardo José Andrade LopesI; Carlos Eduardo R. de AlmeidaII; Modesto JacobinoIII
IDisciplina de Urologia II, Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA
IICurso de Graduação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA
IIIDisciplina de Urologia II e Vice-Diretor, Faculdade de Medicina, Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA



RESUMO
Em regiões endêmicas, a esquistossomose mansônica é responsável por uma alta taxa de morbimortalidade por doenças associadas à infestação do sistema hepático. O acometimento genital pela schistosomiasis mansoni é raro. Nós relatamos o primeiro caso de esquistossomose mansônica em vesícula seminal diagnosticado, incidentalmente, pelo exame histopatológico da próstata e vesículas seminais removidos cirurgicamente.
Palavras-chaves: Esquistossomose mansônica. Câncer de próstata. Vesícula seminal. Prostatectomia radical.

ABSTRACT
In endemic regions, Mansoni schistosomiasis is responsible for high morbidity-mortality rates due to diseases associated with infestation of the hepatic system. Genital involvement caused by Mansoni schistosomiasis is rare. We report the first case of Mansoni schistosomiasis in the seminal vesicle, which was diagnosed incidentally by means of histopathological study of the prostate and seminal vesicles after surgical removal.
Key-words: Mansoni schistosomiasis. Prostate cancer. Seminal vesicle. Radical prostatectomy.



A esquistossomose é uma das doenças tropicais mais abrangentes do mundo. Estima-se que 200 a 300 milhões de pessoas estejam infectadas¹. A espécie Schistosoma mansoni é endêmica em nosso meio, entretanto, a sua forma genital tem sido raramente relatada. Apenas três relatos de caso envolvendo a próstata foram publicados1 2 4, mas nenhum a vesícula seminal. Os autores apresentam um caso de esquistossomose mansônica acometendo a vesícula seminal, diagnosticado incidentalmente em um paciente operado de câncer de próstata.

RELATO DE CASO
O paciente de 62 anos, natural e procedente de Coração de Maria, Bahia, Brasil, vinha sendo submetido à avaliação periódica de próstata, quando apresentou uma elevação no antígeno específico de próstata (PSA). Realizou-se, então, uma biópsia prostática guiada pela ultra-sonografia e diagnosticou-se adenocarcinoma de próstata. O paciente foi submetido a uma prostatectomia radical com retirada de toda a próstata com sua cápsula, vesículas seminais, deferentes e linfonodos. O exame histopatológico confirmou o diagnóstico de adenocarcinoma de próstata (Gleason 3+3) e identificou ovos inviáveis de schistosoma mansoni na vesícula seminal.
Todas as secções da vesícula seminal revelaram, em meio ao estroma fibromuscular, ovos calcificados deschistosoma mansoni, caracterizados pela presença de espícula lateral, sem evidência de fibrose ou formação de granuloma (Figuras 12 e 3).






DISCUSSÃO
O acometimento da próstata e da vesícula seminal pela espécie haematobium é um achado freqüente em países africanos como a Zâmbia e o Egito6 7. Na Zâmbia, em 50 necrópsias de pacientes que foram a óbito por diversas causas, foram encontrados 62% das bexigas, 58% das vesículas seminais e 50% das próstatas infectados por ovos de schistosoma haematobium. A prevalência elevada (50%) de infestação da próstata por ovos deschistosoma haematobium é um dado a ser considerado em futuros estudos em pacientes com hematoespermia, infertilidade e câncer de próstata. Em nossa pesquisa1 2 5, encontramos apenas três casos de infestação da próstata pela espécie schistosoma mansoni, e nenhum envolvimento das vesículas seminais.
Existem dados suficientes para se suspeitar que o schistosoma haematobium, agente etiológico predominante na esquistossomose urinária, é carcinogênico para humanos e predispõe ao aparecimento do carcinoma de células escamosas da bexiga, um tipo de câncer vesical relativamente incomum em regiões não-endêmicas. Porém, ainda não existem evidências suficientes que demonstrem associação entre schistosoma mansoni e neoplasias, sejam da bexiga, próstata ou vesículas seminais8. Ainda não sabemos se essa ou aquela espécie tem alguma associação com o câncer da próstata. Uma questionável associação entre esquistossomose e câncer de próstata, embora pouco provável, ainda não foi devidamente pesquisada. Alguns estudos sugerem que a esquistossomose genital pode estar associada a uma maior taxa de infectividade pelo HIV, principalmente em sua forma genital3 5.
Portanto, relatamos aqui, o primeiro caso de envolvimento das vesículas seminais pelo schistosoma mansoni e chamamos a atenção para a alta incidência do envolvimento genital pela espécie haematobium na África. Cumpre realizar estudos bem conduzidos em regiões endêmicas para avaliar a associação entre esquistossomose mansônica genital e infertilidade, hemospermia e câncer de próstata.

REFERÊNCIAS
1. Alexis R, Domingo J. Schistosomiasis and adenocarcinoma of prostate: a morphologic study. Human Pathology 17:757-760, 1986.        [ Links ]
2. Basílio-de-Oliveira CA, Aquino A, Simon EF, Walter A, Eyer-Silva WA. Concomitant prostatic schistosomiasis and adenocarcinoma: case report and review. Brazilian Journal of Infectious Diseases 6:45-49, 2002.        [ Links ]
3. Kjetland EF, Ndhlovu PD, Gomo E, Mduluza T, Midzi NGL, Mason PR, Sandvik L, Friis H, Gundersen SG. Association between genital schistosomiasis and HIV in rural Zimbabwean women. AIDS 20:593-600, 2006        [ Links ]
4. Lambertucci JR, Voieta I, Barbosa AJA. Schistosomiasis mansoni of the prostate. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 39:233-234, 2006.        [ Links ]
5. Lawn SD. AIDS in Africa: the impact of coinfections on the pathogenesis of HIV-1 infection. The Journal of Infection 48:1-12, 2004.        [ Links ]
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7. Smith JH, Kamel IA, Elwi A, von Lichtenberg F. A quantitative post mortem analysis of urinary schistosomiasis in Egypt. I. Pathology and Pathogenesis. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 23:1054-1071, 1974.        [ Links ]
8. Yosry A. Schistosomiasis and neoplasia. Contribution Microbiology 13: 81-100, 2006.        [ Links ]


 Endereço para correspondência:
Dr. Eduardo José Andrade Lopes
Rua Altino Seberto de Barros 241, salas 405/406
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