Reported hypertension in elderly women: prevalence and associated factors
La hipertensión arterial referida en mujeres ancianas: prevalencia y factores asociados
Sonia Maria Junqueira Vasconcellos de OliveiraI; Jair Lício Ferreira SantosII; Maria Lúcia LebrãoIII; Yeda Aparecida de Oliveira DuarteIV; Ângela Maria Geraldo PierinV
IDoutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). São Paulo, Brasil
IIDoutor em Saúde Pública. Professor Titular do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. São Paulo, Brasil
IIIDoutora em Saúde Pública. Professora Titular do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP. São Paulo, Brasil
IVDoutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da EEUSP. São Paulo, Brasil
VDoutora em Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da EEUSP. São Paulo, Brasil
IIDoutor em Saúde Pública. Professor Titular do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. São Paulo, Brasil
IIIDoutora em Saúde Pública. Professora Titular do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP. São Paulo, Brasil
IVDoutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da EEUSP. São Paulo, Brasil
VDoutora em Enfermagem. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da EEUSP. São Paulo, Brasil
RESUMO
Estudo transversal que caracterizou a prevalência da hipertensão arterial referida e identificou os fatores associados. A amostra constou de 1.265 mulheres idosas, residentes no município de São Paulo, que participaram do Projeto Saúde, Bem-estar e Envelhecimento realizado de 2000 a 2001. A hipertensão arterial foi considerada como variável dependente para fins de análise e das possíveis associações. A prevalência da hipertensão arterial foi 55,3% em mulheres com 60 a 74 anos e 60,7% naquelas com 75 anos e mais. No modelo final de regressão múltipla as variáveis que permaneceram como fatores associados à hipertensão arterial referida foram: diabetes (odds ratio=3,43), doença cardíaca (odds ratio=3,32), idade (odds ratio=1,57), número de filhos (odds ratio=1,51), índice de massa corporal (odds ratio=1,04), e estado de saúde (odds ratio=2,00). Conclui-se que a prevalência da hipertensão referida é similar aos dados de outros estudos.
Palavras-chave: Hipertensão. Prevalência. Saúde do idoso.
ABSTRACT
This cross-sectional study aimed to measure the prevalence of reported hypertension and to identify associated factors. The sample consisted of 1265 elderly women, residents of the city of São Paulo, Brazil, who were interviewed in the Health, Well-being and Aging Project from 2000 to 2001. Hypertension was considered a dependent variable in analyzing possible associated factors. Hypertension prevalence was 55.3% in women from 60 to 74 years old and 60.7% in women 75 years old and more. In the final multiple regression model the variables which remained as associated factors to reported hypertension were: diabetes (odds ratio=3.43), cardiac disease (odds ratio=3.32), age (odds ratio=1.57), number of children (odds ratio=1.51), body mass index (odds ratio=1.04), health conditions (odds ratio=2.00). We conclude that the prevalence of reported hypertension is similar to that seen in other studies.
Keywords: Hypertension. Prevalence. Health of the elderly.
RESUMEN
Este estudio transversal tuvo como objetivo medir la prevalencia de la hipertensión arterial referida e identificar los factores asociados. La muestra consistió de 1.265 mujeres ancianas, residentes en la ciudad de São Paulo, que fueron entrevistadas en el proyecto Salud, Bienestar y Envejecimiento, realizado en 2000 y 2001. La hipertensión fue considerada como variable dependiente para analizar los posibles factores asociados. La prevalencia de la hipertensión arterial fue 55,3% en mujeres de 60 a 74 años, y de 60,7% en aquellas mujeres con 75 años o más. Al final de la regresión múltiple, las variables que permanecieron en el modelo como factores asociados a la hipertensión referida fueron: diabetes (odds ratio=3,43), enfermedad cardiaca (odds ratio=3,32), edad (odds ratio=1,57), número de hijos (odds ratio=1,51), índice de masa corporal (odds ratio=1,04), y condiciones de salud (odds ratio=2,00). Se concluye que la prevalencia de la hipertensión referida es similar a los datos de otros estudios.
Palavras-clave: Hipertensión. Prevalencia. Salud del anciano.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população é um fato constatado mundialmente e tem sido documentado por vários trabalhos publicados nos últimos anos.1-3 No entanto, o envelhecimento populacional não se refere aos indivíduos, ou a cada geração e sim à mudança na faixa etária da população, que indica um aumento das pessoas acima de determinada idade, considerada como critério do início da velhice.4
A Lei N° 8.842/94 dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e no capítulo I, artigo 2º, diz: "[...] considera-se idoso, para efeitos desta lei, a pessoa maior de 60 anos de idade".5:77
O número crescente de idosos deve-se a alguns fatores determinantes, como a redução da mortalidade geral, sobretudo a infantil, diminuição das taxas de fecundidade e aumento das taxas de sobrevida. Aos fatores do processo de envelhecimento, os autores acrescentam a melhoria nas condições de saneamento e infra-estrutura básica e os avanços da medicina e da tecnologia.6
No Brasil, o envelhecimento populacional apresenta características peculiares em razão da rapidez com que acontece esta transição demográfica. Até 1960, a população brasileira apresentou-se muito estável, com distribuição etária quase constante. Era uma população bastante jovem com, aproximadamente, 52% abaixo de 20 anos e menos de 3% acima dos 65 anos. Houve significativo declínio da mortalidade, a longevidade passou de quase 33 anos, no início do século XX,7 para 71,6 anos, em 2004.8
Entre 1960 e 1980, observou-se uma queda de 33% na fecundidade constatada pelo processo contínuo de estreitamento da base da pirâmide etária, conseqüentemente, com envelhecimento da população.4 No último censo, a população de idosos totalizou cerca de 14,5 milhões de brasileiros,9 com projeção de 32 milhões, em 2020, e ocupará o sexto lugar mundial.2,10
Em razão da transição demográfica, mudança de uma população jovem para uma envelhecida, altera-se o panorama epidemiológico relativo à morbidade e mortalidade de uma determinada população. As doenças infecto-contagiosas prevalentes nos jovens tendem a diminuir sua incidência, enquanto as crônico-degenerativas aumentam sua freqüência.10
No processo de envelhecimento, inúmeros agravos à saúde poderão surgir em decorrência das várias alterações fisiológicas e funcionais, peculiares ao grupo de idosos, tornando o indivíduo mais vulnerável às doenças crônicas. O resultado desta constatação implica uma demanda crescente por serviços de saúde, que freqüentemente exigem intervenções onerosas, envolvendo tecnologia complexa.2,7
Outro aspecto a ser considerado na população de idosos é o contingente maior do sexo feminino. Em 2000, dos 14,5 milhões de idosos, 55,1% eram mulheres.9 O aumento da expectativa de vida no sexo feminino é mais significativo do que no masculino, o que pode ser justificado por fatores biológicos e pela diferença de exposição aos fatores de risco de mortalidade.11
Em relação à morbidade, embora o envelhecimento seja um processo natural, nessa fase da vida é comum o aparecimento de doenças crônico-degenerativas, limitações físicas, perdas cognitivas, sintomas depressivos, declínio sensorial, acidentes e isolamento social.10
A avaliação realizada pelo suplemento especial da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) - Saúde, de 1998, indagou como o grupo de idosos considerava seu estado de saúde. Constatou que cerca de 83% referiram como regular ou bom. No entanto, essa proporção diminui para 75%, quando se considera a faixa de 80 anos ou mais. Os problemas de saúde detectados foram: hipertensão arterial, doença da coluna e artrite, entre outros. O pior estado de saúde foi relatado pelas mulheres comparado aos homens.1
A hipertensão arterial é uma doença de natureza multifatorial com alta prevalência na população idosa, tornando-se um fator determinante nas elevadas taxas de morbidade e mortalidade desses indivíduos. Acomete quase 60% dos idosos, está freqüentemente associada a outras doenças como a arteriosclerose, diabetes mellitus e síndrome metabólica, conferindo a este grupo alto risco cardiovascular.12-14
As estimativas de prevalência da hipertensão arterial variam muito, dependendo, não só das diferenças reais entre as populações, mas, do ponto de corte definido, do método usado para medir a pressão arterial, da faixa etária avaliada, dos critérios utilizados (pessoas hipertensas tratadas e controladas) e da representatividade da amostra.15-16
A identificação da doença hipertensiva na população é tarefa difícil, pois exige mensuração da pressão arterial e informações a respeito do uso recente de medicação.17 O fato tem estimulado a busca por indicadores simples que poderiam ser utilizados nos estudos de base populacional.18 A hipertensão auto-referida tem sido usada em vários inquéritos de saúde, entre eles, o National Health and Nutricion Examination Survey,19 nos Estados Unidos da América e a PNAD no Brasil.20
Estudo que analisou a validade da hipertensão auto-referida encontrou 72,1% de sensibilidade e 86,4% de especificidade, concluindo que a hipertensão auto-referida é um indicador apropriado à doença hipertensiva.18
Assim, este estudo teve por objetivo avaliar, em mulheres com 60 anos ou mais, a prevalência da hipertensão arterial referida e identificar variáveis relacionadas às características pessoais e sociodemográficas, doenças referidas, dados antropométricos e hábitos de vida.
MÉTODO
Entre janeiro de 2000 e março de 2001, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) coordenou o Estudo Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE), em sete países da América Latina e Caribe, cujo propósito foi realizar uma coleta sistemática de informações sobre as condições de vida e saúde das pessoas idosas. Trata-se de um estudo multicêntrico, transversal, de campo, com abordagem quantitativa realizado em sete cidades, seis delas capitais: Buenos Aires (Argentina), Bridgetown (Barbados), São Paulo (Brasil), Santiago (Chile), Havana (Cuba), Cidade do México (México) e Montevidéu (Uruguai).
No Brasil, a população desse estudo constituiu-se de 2.143 idosos residentes no município de São Paulo. A amostra foi composta pelo somatório de uma amostra probabilística e de uma intencional, para complementar a amostra de idosos em velhice avançada. Para sorteio de domicílios, usou-se o método de amostragem por conglomerados, em dois estágios, sob o critério de partilha proporcional ao tamanho da amostra. Os dados finais foram ponderados, conforme sua representatividade na população. Da amostra total, 1.265 eram mulheres que na ocasião representavam a população idosa feminina residente no município de São Paulo.
O estudo realizado na cidade de São Paulo foi coordenado pelo Departamento de Epidemiologia e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (Processo Nº 67/1999).21
Coleta de dados
Os dados foram coletados, por meio de entrevistas domiciliares, feitas com um instrumento constituído de 11 blocos temáticos*, que abordam dados pessoais, avaliação cognitiva, estado de saúde, estado funcional, medicamentos, uso e acesso aos serviços, rede de apoio familiar e social, história laboral e fontes de ingresso, características da moradia, antropometria, flexibilidade e mobilidade. O instrumento foi elaborado por um comitê regional formado por pesquisadores responsáveis em cada país, além de especialistas nas temáticas específicas do estudo.22
As entrevistas foram realizadas diretamente com a idosa e em alguns casos com um informante substituto, em decorrência do estado cognitivo da mulher. Os coletadores apresentaram-se falando a finalidade do estudo e ressaltando o aspecto sigiloso da entrevista. A participação das mulheres no estudo foi inteiramente voluntária e todas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias, ficando uma em posse da participante e a outra com os pesquisadores. A descrição detalhada da metodologia empregada pode ser encontrada em publicação específica.22
Definição das variáveis
A variável hipertensão arterial referida foi considerada, como variável dependente para fins de análise e de estudo das possíveis associações que foi considerada no estudo como dicotômica, isto é, com o valor zero (sem referência de HA) e um (HA referida). As variáveis independentes foram selecionadas entre as disponíveis, quanto às características sociodemográficas, doenças referidas e características pessoais. Todas essas variáveis foram avaliadas binomialmente, de forma a facilitar a análise dos resultados. As definições, categorias de referência e de contraste encontram-se agrupadas no Quadro 1.
Análise dos dados
Inicialmente, procedeu-se o cruzamento de cada variável independente com a HA. As porcentagens de presença ou ausência da hipertensão arterial referida foram anotadas, segundo as categorias das variáveis independentes. Os valores da odds ratio não ajustados foram calculados, como indicação de possíveis associações. Para avaliação conjunta das possíveis associações das variáveis independentes com a variável dependente, usaram-se a regressão logística binomial e a variável desfecho (HA), tendo as categorias zero e um como acima mencionado. Para facilidade de interpretação, as variáveis independentes foram transformadas em dicotômicas, conforme especificado. A técnica de ajuste do modelo foi realizada "por passos". O modelo inicia-se com todas as variáveis presentes, sendo retirada em cada ciclo, aquela que menos contribuiu para o ajuste. Ao final, permanecem apenas as variáveis cujos odds ratio são significantes ao nível de 5%.23
RESULTADOS
No município de São Paulo, os resultados apontam que a prevalência da hipertensão arterial referida foi de 55,3% em mulheres com 60 a 74 anos e de 60,7% para o grupo acima de 75 anos.
Nos dados das Tabelas 1, 2 e 3, a seguir, constam as análises bivariadas das variáveis independentes com a variável dependente e os valores dos odds ratio não ajustados.
O fato de apresentar idade acima de 75 anos e ser estrangeiro elevou em 25% a chance de ter hipertensão arterial referida. O mesmo ocorreu para falta de disponibilidade de dinheiro, cor da pele informada não branca, ter três filhos ou mais e ter cônjuge que elevaram as chances de ter hipertensão arterial referida em 34%, 35%, 56% e 10%, respectivamente.
Em relação à escolaridade e renda, os achados demonstraram que ter essas variáveis em níveis mais elevados exerceu efeito protetor para hipertensão arterial referida.
As doenças cardíacas e o diabetes foram expressivos fatores associados, pois suas ocorrências aumentaram as chances de hipertensão arterial referida em mais de três vezes, e a presença de doença cerebrovascular cerca de duas vezes. Ressalta-se, ainda, que fatores psicoemocionais, também, elevaram as chances de hipertensão arterial referida, embora em menor magnitude.
A auto-avaliação do estado de saúde confirma o potencial de bom marcador para várias patologias, incluindo a HA que teve seu risco aumentado por 2,23 na categoria regular/mau.
O índice de massa corpórea na faixa mais elevada aumentou em 2,2 vezes a chance de hipertensão arterial referida, enquanto para a razão cintura-quadril o acréscimo foi de 83%. Por outro lado, entre os hábitos de vida, a ingesta de bebida alcoólica teve efeito protetor e o hábito de tabagismo atual ou anterior aumentou em 36% a chance de hipertensão arterial referida.
Quanto as variáveis menopausa (após 50 anos) e fazer uso de terapia de reposição hormonal, apresentaram efeito protetor.
Os dados da Tabela 4 apresentam os resultados do modelo final de regressão logística múltipla. Nesta análise, permaneceram como fatores associados idade, IMC, diabetes, número de filhos, doença cardíaca e o estado de saúde.
Todas as variáveis que permaneceram no modelo são fatores associados ao risco, não se obtendo nenhuma como fator de proteção. As variáveis mais importantes foram: diabetes e doença cardíaca, que aumentaram as chances acima de três vezes de ocorrer hipertensão arterial referida. O estado de saúde citado confirmou ser um bom marcador para a ocorrência da hipertensão arterial referida. Idade mais elevada e maior número de filhos, também, permaneceram significantemente associados em níveis semelhantes. O índice de massa corporal, embora significante, apresentou menor contribuição para a associação com a hipertensão neste estudo.
DISCUSSÃO
Reconhecidamente, a hipertensão arterial é uma doença de alta prevalência nacional e mundial, acompanhada de elevado risco de morbidade e mortalidade que se constitui em um grave problema de saúde pública. Além disso, sua evolução é lenta e silenciosa, o que dificulta a percepção dos indivíduos portadores da doença. Nesse sentido, uma das limitações do atual estudo foi a utilização da informação referida sobre a ocorrência de hipertensão arterial. No entanto, como abordado na introdução, pela facilidade a hipertensão arterial referida tem sido utilizada em grandes inquéritos de saúde de base populacional. Assim, um estudo realizado no Brasil verificou que a hipertensão auto-referida é um indicador apropriado com sensibilidade e especificidade relativamente elevadas.18 Embora, pesquisas feitas em nosso meio apontem que cerca de um quarto24 a metade16 dos indivíduos desconhece sua condição de hipertenso. Por outro lado, os trabalhos mencionam que, em geral, o conhecimento da hipertensão é maior entre as mulheres.24-27
No município de São Paulo, a prevalência da hipertensão arterial referida foi de 55,3% nas mulheres entre 60 e 74 anos e 60,7% no grupo acima de 75 anos. Os dados da PNAD de 1998 mostram que 49,7% das mulheres brasileiras citaram hipertensão arterial, considerando a faixa etária acima de 60 anos.27 Também, utilizando a mesma metodologia, valores semelhantes foram observados no estudo transversal de base populacional com mulheres idosas residentes na área urbana do município de Campinas, que constatou prevalência de hipertensão de 50,4%; 54,1% e 52% nas faixas 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e > 80 anos, respectivamente.25
No entanto, pesquisa realizada em Cianorte - Paraná, com avaliação dos níveis pressóricos, verificou maior prevalência de hipertensão arterial (72,4%) nas mulheres na faixa etária de 60 a 69 anos.16 Na cidade de Bambuí - Minas Gerais, o estudo de base populacional medindo a pressão indiretamente encontrou 61,5% dos idosos (homens e mulheres) com hipertensão arterial.24 Outro estudo transversal realizado em Rotterdam - Holanda, com 7.983 participantes, com 55 anos ou mais e avaliação indireta da pressão arterial com ponto de corte em >160/95 mmHg, encontrou menor prevalência de hipertensão entre as mulheres idosas (39%).28 Estes resultados apontam que a doença hipertensiva é um problema de saúde, não só dos grandes centros urbanos, mas também de cidades pequenas, como Bambuí e Cianorte.
Entre os fatores de risco para hipertensão arterial, são citados na literatura: hereditariedade, idade avançada, sexo feminino, grupo étnico, menor nível de escolaridade, condição socioeconômica desfavorável, obesidade, etilismo, sedentarismo, tabagismo e o uso de anticoncepcionais orais.14,25
Neste estudo, os resultados apontaram como fatores associados à hipertensão arterial referida na análise bivariada: idade acima de 75 anos, ser estrangeiro, cor da pele não branca, ter três filhos ou mais, ter companheiro, falta de disponibilidade de dinheiro. Entre as doenças mencionadas, sobressaíram: diabetes, doença cardíaca e cerebrovascular, maiores índices de massa corporal e razão cintura-quadril, além de tabagismo atual ou anterior. Após ajustamento, algumas dessas variáveis foram confirmadas pela análise multivariada, porém outras perderam a importância, provavelmente, por traduzirem seus papéis de associações secundárias. As variáveis que permaneceram no modelo, em ordem decrescente de magnitude, foram: diabetes, doença cardíaca, estado de saúde, idade mais avançada, maior número de filhos e maior IMC.
Destaca-se que o aumento do IMC nas faixas de sobrepeso e obesidade tem sua magnitude caracterizada por se constituir em fator de risco, tanto para hipertensão como para diabetes. Estas doenças contribuem para problemas cardiovasculares que representam a principal causa de morbidade e mortalidade em nosso meio. Estudo desenvolvido com a mesma base de dados da pesquisa SABE demonstrou prevalência de 40,5% de obesidade entre as mulheres acima de 60 anos.29
Os fatores de risco diabetes e doença cardíaca, encontrados na atual pesquisa, estão em consonância com os resultados de outros estudos.25,27-28 Ligado a essas co-morbidades, o IMC elevado também foi um fator que apresentou associação com a hipertensão, semelhante aos observados em outros trabalhos.24-26 Cabe destacar que a avaliação do estado de saúde de forma insatisfatória, provavelmente, tenha resultado da associação dos diferentes fatores, fato comprovado por outros autores.25-26
Quanto à associação do maior número de filhos e hipertensão referida, poderia ser decorrente da implicação de uma condição socioeconômica mais desfavorável.
No que tange à idade, observou-se no estrato superior maior prevalência da hipertensão arterial, o que é esperado, pois a tendência da pressão arterial é de aumento com o passar dos anos, fato comprovado em diferentes populações.14,16,25,27-28
Finalmente, considerando o delineamento deste estudo, uma das limitações foi a impossibilidade de se afirmar a temporalidade dos fatores associados encontrados. Para tanto, é necessário o desenvolvimento de estudos longitudinais, que estão sendo realizados no presente momento. Outro aspecto, que merece ser comentado, é que pesquisas de morbidade auto-referidas podem subestimar as prevalências das doenças, em razão de problemas de memória ou mesmo falta de diagnóstico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar dos estudos demonstrarem progressos na prevenção, detecção, tratamento e controle da hipertensão nas últimas décadas, o desafio para controlar a doença é grande e parece ser comum, tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento.
Os dados do presente estudo corroboram os achados já evidenciados na literatura que destacam a importância da faixa etária elevada no aumento da prevalência da hipertensão arterial. Acrescenta-se, ainda, que condições importantes como fatores associados, a saber: doença cardiovascular, diabetes e obesidade demonstraram mais uma vez que os profissionais da saúde devem reunir esforços com ações preventivas, visando a minimizar o aparecimento de complicações decorrentes do quadro hipertensivo.
Embora a cidade de São Paulo tenha sido escolhida por ser considerada uma grande metrópole e, por tal razão, envolver uma ampla diversidade de idosos (diferentes etnias, culturas, estratos socioeconômicos, estruturas sociais, entre outros), mais estudos podem ser necessários, considerando as divergências das regiões brasileiras.
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Endereço para correspondência: Sonia Maria Junqueira Vasconcellos de Oliveira
Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419
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