Olá amigos!
Tenho recebido muitas perguntas e comentários a respeito do perfil profissional adequado para a carreira de psicologia. Neste texto, vou procurar responder à esta dúvida definindo o que é perfil profissional, definindo os tipos psicológicos para Jung, e, também, descrevendo a minha opinião sobre se há ou não um perfil único para a psicologia, de acordo com minha experiência, pensando também nos meus colegas de profissão.
A ideia do perfil profissional
Muitas pessoas não sabem, mas a psicologia industrial – depois chamada de psicologia organizacional ou Recursos Humanos – teve seu início com a seleção de pessoal para se trabalhar nas fábricas, isto no início do século XX. Foi uma das primeiras áreas de trabalho para os profissionais da psicologia e que, também, ajudou na criação, consolidação e divulgação dos testes psicológicos, com o nosso famoso QI (Questionário de Inteligência).
A ideia por trás do perfil é muito simples e pode ser resumida em uma frase: “Para cada vaga há um tipo de personalidade adequado”. Um exemplo simples pode nos ajudar. Imagine que você esteja na fila de um supermercado. Na sua frente, estão 5 pessoas com suas compras. No caixa, uma funcionária lenta e morosa passa um item por vez a cada 30 segundos. Você e todos na fila começam a ficar impacientes e pensam porque a caixa não é mais rápida.
De modo que para cumprir aquela função profissional, esperamos um perfil profissional. Para ser caixa de supermercado você tem que ter agilidade. Esta é uma característica simples, porém, fará toda a diferença no fluxo de pessoas que passarão suas compras ao longo do dia. E será um motivo para a satisfação ou insatisfação (caso não seja bem cumprida a função) dos clientes.
Do mesmo modo, a ideia do perfil aparece em todas as outras vagas e todas as profissões possíveis, do funcionário que aperta um botão o dia inteiro em uma fábrica ao gerente de uma grande empresa. Os perfis podem ser mais completos e complexos ou mais simples, não importa. A ideia central é sempre a mesma: “Uma vaga, um perfil, um tipo de personalidade”.
Perfil profissional e tipos psicológicos de Jung
Na psicologia, existem várias teorias a respeito da personalidade. Uma das mais utilizadas é a teoria da psicologia analítica de C. G. Jung, que foi elaborada e publicada pela primeira vez em 1920. Explicar em detalhes todas as mais de 800 páginas deste livro, evidentemente, extrapolaria em muito este texto. Portanto, vou resumir:
Para Jung, encontramos tipos psicológicos distintos e que são facilmente reconhecíveis (se pensarmos as pessoas ao nosso redor).
No começo da escrita do livro, Jung via dois tipos básicos:
– O tipo extrovertido, que ele inicialmente, ligou à função sentimento.
– O tipo introvertido, que ele no começo, ligou à função pensamento.
Depois de reconsiderar a ligação entre as atitudes (introvertida e extrovertida), ele separou e inseriu mais duas funções psíquicas: a intuição e a sensação.
Então vamos explicar.
Para ele, existem duas atitudes – a atitude introvertida e a atitude extrovertida. E, além destas duas atitudes, existem quatro funções (digamos, atividades da psique) que são fundamentais: o pensamento, o sentimento, a intuição e a sensação. Como as atitudes não estão necessariamente ligadas às funções, temos 8 tipos:
1) Tipo introvertido – função pensamento
2) Tipo introvertido – função sentimento
3) Tipo introvertido – função intuição
4) Tipo extrovertido – função sensação
5) Tipo extrovertido – função pensamento
6) Tipo extrovertido – função sentimento
7) Tipo extrovertido – função intuição
8) Tipo extrovertido – função sensação
A atitude introvertida ou extrovertida pode ser entendida do seguinte modo. Pensando na relação sujeito – objeto, vamos ver que existem pessoas que se voltam mais para si mesmas (introvertidas) e pessoas que se voltam mais para o objeto (extrovertidas).
Com relação às funções, podemos pensar do seguinte modo:
Função pensamento: é a função lógica, racional, abstrata que organiza o mundo a partir da avaliação do pensamento.
Função sentimento: ao contrário do que pode parecer, em princípio, não quer dizer ser uma pessoa emotiva. A função sentimento para Jung (a palavra ficou um pouco ruim na tradução do alemão para o português) quer dizer a avaliação que temos a partir de julgamentos de valor. Dizer se algo é bom ou ruim, belo ou feio, interessante ou desinteressante, importante ou não importante, moral ou imoral, ético ou anti-ético, são avaliação do sentimento.
Função sensação: é a capacidade de organizar os estímulos dos 5 sentidos e a capacidade de observar e memorizar os detalhes.
Função intuição: é a função que se dá a partir da capacidade de percepção via inconsciente. Tem certa relação com o que dizemos ser o 6º sentido, embora seja um pouco diferente. Ao contrário da função sensação, a função intuição organiza os estímulos advindos do inconsciente através de uma ordem global e geral e não pelos detalhes.
Em resumo, no diz Jung: “A sensação (isto é, a percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe; o pensamento mostra-nos o que é esta coisa; o sentimento revela se ela é agradável ou não; e a intuição nos dirá onde vem e para onde vai”.
Perfil profissional de Psicólogos e Estudantes de Psicologia
Bem, agora que entendemos a ideia de perfil profissional e vimos uma das principais teorias a respeito dos tipos de personalidade que influenciou a criação de testes como o MBTI e o Quati que são utilizados em empresas, podemos passar à dúvida que me fez escrever: Qual é o perfil dos psicólogos e estudantes de psicologia?
Se entramos em uma sala da faculdade de psicologia, em qualquer Universidade, veremos que a predominância de estudantes será do sexo feminino. Em minha sala, de 35 alunos, haviam 30 mulheres e 5 homens. Estes dados conferem com pesquisas sobre os profissionais já formados. De acordo com recente pesquisa, de cada dez profissionais da psicologia, nove são mulheres.
A média de idade dos estudantes de psicologia é entre 18 a 40 anos.
E além dos dados de gênero e idade, o que podemos dizer a respeito do perfil? Muitas pessoas me perguntaram, querendo saber se elas teriam o perfil adequado para seres psicólogas e psicólogos.
Eu fico muito tentando a dizer que não existe um perfil profissional específico em nossa área. Afinal, podemos trabalhar em muitos locais (totalmente diferentes uns dos outros), de modo que – teoricamente – existem locais e espaços de atuação para todo o tipo de perfil.
Vamos pensar com relação à atitude introvertida e extrovertida.
Um profissional da psicologia pode ser extrovertido e trabalhar com Recursos Humanos, em hospitais e escolas e lidar cotidianamente com centenas de pessoas. Mas também existe espaço para as pessoas mais introvertidas, em clínicas e consultórios. Além disso, os introvertidos, claro, podem trabalhar com grandes públicos, embora isto seja mais cansativo do que para os extrovertidos.
O que eu quero dizer é que as áreas dentro da psicologia são tantas que estas mesmas áreas comportam todos os tipos de perfis profissionais.
Na minha faculdade psicologia, por exemplo, era possível encontrar um sujeito musculoso, ao lado de uma patricinha, ao lado de um marxista, ao lado de um socialista, ao lado de um religioso, ao lado de um filósofo, etc, etc. Todas estas diferentes personalidades (um pouco caricaturas neste exemplo mas reais) foram meus colegas de curso. De modo que o público é realmente muito diferente de outros cursos como, por exemplo, o curso de contabilidade ou o curso de teatro.
Com relação às funções descritas por Jung, eu diria que a predominância é do tipo sentimento. O sentimento, como disse, avalia o mundo, as situações e as circunstâncias não pela lógica, não pelo detalhe ou pela intuição mas pelo julgamento de valor. Perguntas e explicações sobre se isto é bom ou ruim, melhor ou pior, adequado ou inadequado são formas de julgar e descrever a realidade típicas de pessoas sentimento.
Por exemplo, se um psicólogo vai trabalhar com Recursos Humanos, terá que dizer qual candidato é mais adequado para a vaga (no fundo, qual é o melhor). Para responder, ele terá que fazer uso da função sentimento. Na clínica, constantemente temos que avaliar qual procedimento, método ou análise é melhor e, também, ajudar o próprio paciente a fazer esta avaliação sobre o que deve ou não fazer, sobre o que pode ou não pode ser feito, sobre o que é mais conveniente ou inconveniente, etc.
Para Jung, as funções todas são usadas. O que caracteriza o tipo psicológico é a predominância da função (sentimento, pensamento, intuição ou sensação) e da atitude (introvertida ou extrovertida).
Olhando os meus colegas de faculdade e, eu mesmo, vejo que a função sentimento é predominante para os psicólogos e estudantes de psicologia. Com relação à introversão e extroversão, diria que é metade-metade.
Conclusão
A faculdade de psicologia é uma faculdade extremamente ampla, que tem disciplinas afins que vão da estatística à anatomia, passando pela filosofia, sociologia, antropologia, pedagogia. Os conhecimentos aprendidos no curso poderão ser utilizados na prática em áreas diversificadas: consultórios, hospitais, instituições de saúde, autoescolas, comunidades e grupos, empresas, faculdades e escolas.
Com esta amplitude de conhecimentos e de práticas profissionais é extremamente complicado definir um perfil profissional dos estudantes de psicologia e dos profissionais. O fato de 90% das pessoas serem do sexo feminino não impede evidentemente que os homens façam o curso e trabalhem. Se pensarmos na atitude introvertida ou extrovertida, veremos também que há campo para todos.
Com relação às funções, disse que a função predominante é a função sentimento. Porém, ainda que em menor quantidade, encontramos diversos profissionais e alunos que tem como função predominante o pensamento (a lógica, a abstração, a capacidade de definir conceitos teóricos com precisão). Em geral, estes irão ser professores acadêmicos e pesquisadores dentro da psicologia.
O que eu posso concluir a respeito do perfil profissional dos psicólogos, portanto, é que não há um único perfil adequado ou melhor para esta carreira. A psicologia é uma ciência e uma profissão extremamente ampla e rica, que permite que perfis diferentes exerçam sua atividade. Isto não invalida a ideia de perfil profissional, já que outras faculdades (mais específicas e fechadas) terão perfis mais definidos e específicos.
Se você está pensando de fazer a faculdade de psicologia, eu sugiro que você você esqueça esta ideia de adequação a um perfil profissional. O mais importante é saber se você tem disposição para estudar as matérias da faculdade (você pode pesquisar pela grade curricular) e também se você se vê trabalhando em uma das dezenas de áreas nas quais os psicólogos podem trabalhar.
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