Entre os estudiosos da vida, é comum a crença de que são necessários eventos em larga escala, tais como mudanças climáticas globais, para estimular o surgimento de espécies novas e diversificadas em grande quantidade. E sabe-se que um grande influxo de novas espécies animais, descrito como um “pulso” de novas espécies, pode ser visto nos registros de fósseis africanos entre 2,8 e 2,5 milhões de anos atrás - incluindo nosso próprio gênero Homo. Mas W. Andrew Barr, do Centro de Estudo Avançado da Paleobiologia Humana da Universidade George Washington, diz que suas pesquisas sugerem que esse evento pode ter ocorrido por acaso, independentemente de mudanças climáticas. O artigo relatando os resultados do estudo foi publicado no dia 31 de julho na revista científica Cambridge Core.
Considera-se que, de forma geral, a ocorrência de grandes mudanças ambientais levará ao surgimento de algumas espécies e à extinção de outras, o que pode gerar um conjunto de novas espécies, ou pulso, no registro fóssil. Entretanto, não há uma definição formal do que seja considerado um pulso. Por isso, os especialistas discordam sobre quais grupos constituem eventos significativos e quais podem ser explicados como flutuações aleatórias.
Barr utilizou simulações de computador para modelar como o registro fóssil se pareceria ao longo do tempo na ausência de qualquer mudança climática e encontrou conjuntos de novas espécies com magnitude semelhante à dos conjuntos observados no registro fóssil. Isso significa que padrões aleatórias provavelmente têm seu papel na flutuação do processo de especificação sub-avaliado, ele diz.
As descobertas de Barr apontam que os cientistas talvez precisem repensar ideias amplamente aceitas sobre por que os ancestrais humanos se tornaram mais inteligentes e sofisticados.
“A ideia de que nosso gênero se originou há mais de 2,5 milhões de anos como parte de um pulso de substituição em resposta direta a mudanças climáticas tem uma história profunda na paleoantropologia”, disse Barr. “Meu estudo mostra que a magnitude daquele pulso poderia ser causada por flutuações aleatórias em taxas de especiação. Uma implicação é que talvez precisemos ampliar nossa busca pelo motivo pelo qual nosso gênero surgiu naquele lugar e época.”
Ele comparou o padrão a lançar uma moeda. Se lançar uma moeda 100 vezes, você esperaria registrar “cara” 50 vezes e “coroa” outras 50. Contudo, se estiver olhando apenas para 10 arremessos de moeda, poderia ver um grande desequilíbrio, registrando, em vez disso, sete “cara” e apenas três “coroa”. Com o passar do tempo, as proporções iriam se aproximar, mas, no curto prazo, seria possível enxergar os conjuntos formados pelos resultados dos lançamentos independentes da moeda, segundo ele.
De forma similar, no modelo de Barr, as flutuações na substituição de espécies são expressivas, mas causadas puramente por processos aleatórios.
“Quando se olha com cuidado as evidências e se compara as possíveis explicações, a ideia de que a origem do Homo é parte de um pulso de substituição causado pelo clima realmente não se mantém”, disse Barr.
A pesquisa desafia os cientistas a serem cuidadosos com as histórias que contam sobre a história da adaptação humana, segundo Barr. Traços que fazem dos humanos diferentes de seus ancestrais - como cérebros maiores e grande sofisticação tecnológica - poderiam ter surgido por uma variedade de razões, ele diz.
“Podemos sentar no presente e contar histórias sobre o passado que fazem sentido com as adaptações dos nossos dias modernos”, ele disse. “Mas elas poderiam ter evoluído por razões que não conhecemos.”
Universidade George Washington
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