quinta-feira, 22 de maio de 2014

Estímulos elétricos têm se mostrado eficientes para melhorar o funcionamento cerebral de indivíduos saudáveis e não apenas dos que sofreram algum dano



Eletrodos presos à cabeça num teste de estimulação transcraniana (tDCS)
O cérebro é um órgão elétrico e químico extremamente complexo. Nos últimos cem anos, cientistas vêm estudando meios para alterar suas funções e compensar, geralmente por meios farmacológicos, disfunções, danos e patologias. Mais recentemente, drogas que melhoram as habilidades do cérebro têm sido desenvolvidas para uso mesmo quando não há problemas no cérebro a serem corrigidos. Agora, estamos no começo de uma nova era na qual começamos a explorar novas técnicas de estimulação do cérebro por meio de estímulos elétricos.

Pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que a aplicação de pequenas correntes elétricas no cérebro humano pode tornar indivíduos normais mais capazes. As pessoas passam a ler com mais fluência, resolvem melhor problemas matemáticos e adquirem melhor memória.

Na estimulação transcraniana por corrente direta (tDCS), como é conhecido o tratamento, eletrodos presos à cabeça são usados para a aplicação de frequências específicas para certas partes do cérebro, aumentando ou reduzindo a sua atividade. Isso tem se mostrado uma ferramenta de pesquisa útil, auxiliando os neurocientistas a descobrirem como cada parte do cérebro contribui para o funcionamento geral do órgão. Para atuar como ferramenta terapêutica, em Oxford, a atividade de regiões envolvidas em determinadas funções, como a leitura, é acelerada quando a pessoa cumpre essas tarefas.

Até aqui, muitas das pesquisas sobre o uso clínico da tDCS têm sido focada nas pessoas com danos provocados por derrames ou problemas degenerativos, como o Mal de Parkinson. Os estudos têm mostrado que a técnica pode compensar, por exemplo, déficits motores.

O uso da tDCS para melhorar as funções de cérebros saudáveis é um tema bem recente nas pesquisas. Estudos como o de Oxford têm comprovado de forma consistente que a técnica funciona. Além de melhorar as habilidades, os benefícios são de longo prazo, já tendo sido identificados após vários meses de aplicação das correntes. Além disso, a técnica vem se mostrando segura. Falta ainda estabelecer o quanto a estimulação constante pode exaurir as células cerebrais ou ainda se ela pode criar dependência ou modificar o modo de funcionamento normal do cérebro.

A aplicação prática do tDCS também precisa de mais estudos. Ela pode aumentar a performance de estudantes por longo tempo, por exemplo?

Há muitas vantagens na tDCS: a técnica é não invasiva e os aparelhos para sua aplicação são relativamente baratos e portáteis. Além disso, é fácil desenhar os testes, já que não é complicado disfarçar, num grupo, quem são os sujeitos que estão recebendo o tratamento ou o placebo.

Tais atributos, no entanto, podem facilitar aplicações inescrupulosas. E o uso impróprio pode ter o efeito errado – estimulando a parte errada do cérebro ou até inibindo a atividade cerebral de algumas regiões.

Se a tDCS se tornar um método efetivo e seguro de melhorar as funções cerebrais, os benefícios serão enormes. E chegará o dia em que quando o professor pedir aos estudantes para colocarem o cérebro para funcionar, eles não estarão apenas fazendo uma piada.

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