domingo, 18 de maio de 2014
A dor feminina
Sinceramente: por quanto tempo você agüenta sentir dor?
A dona-de-casa Maria de Lourdes Ferreira reclama sem parar há 27 anos. A dor misteriosa que a persegue quase destruiu a família.
“Dificilmente tem um dia que ela diz que está bem. Nunca. Dor de cabeça, dor nas pernas, dor no estômago”, lamenta o marido de Maria de Lourdes, José Alves Ferreira.
“Você pensa que vai morrer, que não vai suportar”, continua Maria de Lourdes.
“Remédios caríssimos. Teve remédio de R$ 85, R$ 90”, conta José Alves.
”Cheguei a desconfiar de tanta dor”, lembra o filho de Maria de Lourdes, Gustavo Alves Ferreira Neto.
Quando sentou na sala de espera, Maria de Lourdes descobriu que não sofria sozinha. “Minha dor começou na barriga, mas da barriga ela foi se estendendo para o corpo inteirinho”, explica a paciente Marisa Cortez.
“Não conseguia que ninguém nem me tocasse, porque doía tudo”, diz outra paciente, Dalva de Fátima Rocha.
“Quem estava ao redor da gente falava que era psicológico, que eu estava fazendo isso para chamar a atenção das pessoas”, continua Marisa Cortez.
Pois é. Não bastasse o sofrimento físico, durante anos, estas mulheres foram vítimas da desconfiança e do descaso, principalmente de quem deveria ajudar.
“É para falar francamente? Um falava que eu tinha Aids. Outro falava que eu tinha tuberculose. Outro falava que eu estava com início de câncer”, desabafa Marisa Cortez.
Quer ver só como acontece? Ângela Spíndola, que passou por 61 médicos, aceitou se consultar em um hospital para mostrar como foi tratada durante anos, até chegar a um centro de dor e descobrir que a doença misteriosa tem nome: fibromialgia.
“A fibromialgia se caracteriza exatamente por dor na musculatura. São bandas da musculatura que se contraem e a contratura dessa musculatura gera dor”, esclarece o médico especializado em dor Cláudio Fernandes Corrêa.
“O cérebro interpreta como dolorosos estímulos que normalmente não são dolorosos. A resultante clínica é que o paciente vive com dor 24 horas por dia”, explica o professor de reumatologia da Universidade Federal de São Paulo, Daniel Feldman.
O problema, segundo estes especialistas em fibromialgia, é que muitos médicos não sabem identificar a síndrome.
“Não tem exames, nem de laboratório, nem de imagem, nem neurofisiológico, que vão mostrar alterações”, diz o médico Cláudio Fernandes Corrêa.
A fibromialgia pode atingir qualquer pessoa, mas aparece mais em mulheres acima dos 30 anos. Fique de olho nos sintomas.
“Se ela tiver dor pelo corpo por mais de três meses, se sentir muito cansada, tiver dor de cabeça freqüente, se não dormir bem, são sinais de fibromialgia”, enumera o professor Daniel Feldman.
“Ansiedade, insegurança, depressão”, completa o médico Cláudio Fernandes Corrêa.
“São pessoas, em regra geral, muito detalhistas, muito perfeccionistas. Gostam de tudo nos mínimos detalhes. Não conseguem ver uma coisa fora do lugar”, continua o professor Daniel Feldman.
”Perfeccionista demais. Tudo nos trinques. Pode estar morrendo, mas ela lava, passa bem. O que pedir ela faz”, conta o filho de Maria de Lourdes, Gustavo Alves Ferreira Neto.
“Quanto mais rápido a gente conseguir fazer o diagnóstico e começar o tratamento, melhor vai ser o resultado final”, alerta o professor Daniel Feldman.
Maria de Lourdes está começando a se tratar. Pode contar agora com um poderoso aliado: a compreensão. “Agora eu procuro deixar ela mais calma, menos nervosa”, conta o filho, Gustavo Alves Ferreira Neto.
“Sempre na esperança de um dia melhor”, diz o marido de Maria de Lourdes, José Alves Ferreira.
Fonte: Reportagem do "Fantástico" - Rede Globo de Televisão
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